terça-feira, 30 de abril de 2013

Fines coronat opus o fim coroa a obra porém só comigo: BH, 01º0502001; Publicado: BH, 0300502013.

Fines coronat opus o fim coroa a obra porém só comigo
Que não acontece isso fugit irreparabile tempus foge
Irreparavelmente o tempo só não consigo fazer nada
Não tenho o genus irritabile vatum citado por Horácio
A raça irritadiça dos poetas o que resta-me a grosso modo
É este expressar grosseiramente que em linhas gerais deixo
Aqui o mais aproximadamente possível sem nada poder
Expressar é um dactiloscópico dactiloscrito é um original
Escrito à máquina manual segura pelos tentáculos da
Dactiloteca a pele que envolve cada um dos dedos dos
Mamíferos creio que isto seja um xodó com uma ideia
Fixa que significa mania do uso de linguagem infantil
Que veio do francês dada o dadá cujo princípio essencial
É o apelo ao todo subconsciente total igual ao movimento
Literário lançado pelo poeta Tristan Tzara em 1916 o
Dadaísmo penso que aqui neste escrito resgato como um
Autêntico dadaísta, nesta idade de formador de substantivos 
Femininos abstratos que exprimem noção atibutiva como
A bondade da mulher de aturar a maldade do homem nove
Meses na legalidade do útero complacente às vezes até a
Adquirir a fealdade do espírito dele a frialdade da alma dele
Em preterência à amabilidade da própria mulher à facilidade
Com que ama entrega-se é mãe tem capacidade para gerar
Total uniformidade para criar em qualquer circunstância
Afinidade em aceitar amamentar o filho com coleção
De irmandade a fazer de tudo para evitar a mortandade a
Dar exemplo de humanidade de boa ideia de ação
Realizada ao não deixar nenhum tipo de barbaridade
Acontecer com o seu filho mesmo quando às vezes não
Consegue evitar a forma original persiste no lar
Em que é a majestade é a potestade é o poder em
Forma de potência é o potentado em forma de divindade
De anjos da sexta hierarquia que Deus afaste com o seu
Supremo poder qualquer tempestade do lar da mulher
Que todo loureiro seja usado para tecer uma coroa de louros
Que tenha a fronte cingida por essa coroa como se fosse
Uma heroína atleta vencedora das Olimpíadas da vida
Não gostaria de usar a dafnomancia a adivinhação por
Meio de folhas de loureiro queimadas não gostaria de
Usar a manteia do dafnomante não quero saber
Do resultado dafnomântico que informa sem consulta
Se a mulher será feliz ou não quero só a felicidade
Da mulher que aprenda isto que demonstre
Isto que pregue isto no seio da humanidade
Se um dia pudesse fazer igual ao Sebastião Salgado
Também iria daguerreotipar isto é fotografar ou reproduzir
Por daguerreótipo do nome do inventor francês Daguerre
Todos os feitos da mulher se conhecesse a daguerreotipia a
Arte da fotografia da revelação de iodeto de brometo
De prata contidos em placa de cobre sob vapores de
Mercúrio a fixar-se a combinação com cianeto ou
Hipossulfito creio que seria um Sebastião Salgado um
Clássico dálete da lente como é clássica a quarta letra do
Alfabeto hebraico saberia escrever tudo que fosse
Verídico a respeito da mulher desde da almatense do
País dalmático à que trabalha com damas quinagem
Nas operações de damas quinas à tuxia à mulher mendiga
Pedidora de esmolas conheci uma que vivia a pedir
Tinha uma ferida crônica na perna porém o filho
Estava sempre bem vestidinho limpinho arrumadinho
Mesmo ao ser filho duma mendiga as danaides criações
Mitologias dos gregos moças condenadas a encher
Eternamente tonéis sem fundo comprovam a perseverança
Da mulher quisera ter o dom de criar um poema
Denubiano com a beleza do rio europeu Danúbio assim
Poder enaltecer o valor da mulher também a do daomeano
Não posso esquecer a de Daomé a natural
Habitante desse país que se sofre que a partir
De hoje pare de sofrer seja só mulher feliz quero
Entregar meu pescoço ao dardejamento meu coração
Ao flechamento meu corpo ao seteamento não sou
São Sebastião mas quero esta cintilação quero
Morrer dardejante cintilante igual a uma estrela cadente
Brilhante igual ao sol coruscante como um cometa
Com a genialidade do darwinismo com a doutrina
Biológica cuja conclusão extrema é o parentesco
Fisiológico a comunhão de origem em todos os seres
Vivos com a formação de novas espécies por um processo
De seleção o evolucionismo darwinista mas perdoeis-me
A ignorância deste vil ignorante continuo a pensar que foi
Deus que criou a mulher a mulher foi o único ser que Deus
Deixou ao criacionismo com todos seus designativos de
Pelos com seus tesouros guarnecidos como o dasicarpo
Que tem os frutos peludos o dasifilo cujas folhas são
Espessas pilosas a folhagem densa do restante não
Quero nem saber nem mesmo do dasipodídeo espécime dos
Dasipodídeos família de mamíferos de corpo coberto por
Uma carapuça como os tatus o restante podeis matar com o
DDT o inseticida sintetizado pelo sábio suíço Paul Hermann
Mueller 1899-1965 que é sigla de diclorodifeniltricloretana
Só salveis a mulher a mãe a tia a avó que têm
Diferentes relações como de posse lugar modo meio causa
Tempo dimensão origem matéria conteúdo fim
Destino alvo valor menos comparação pois não
Temos como comparar a mulher com qualquer outro
Ser na face da Terra a mulher é única na dealbação da vida

terça-feira, 23 de abril de 2013

Simplicidade habita comigo singeleza mora em mim; BH, 0310501º0602001; Publicado: BH, 0230402013.

Simplicidade habita comigo singeleza mora em mim
Gentileza é o meu nome luto pelo desadorno superficial
Do meu ser pois quero ser um homem singelo anelo ser
Um ser simples desadornado do supérfluo não quero é
Que chameis-me de desconceituador ou de desabonador
Ou ainda de desacreditador nem da juventude nem da
Velhice não abrais processos contra mim pois não sou um
Sócrates não terei altura não saberei defender-me a pior
Coisa é ser desconceituado ser desacreditado perante os
Seus Sócrates não suportou preferiu morrer já não terei a
Coragem de morrer assim cheio de dignidade tanto quanto
Sócrates estou destreinado em virtude desabituado com a
Razão desacostumado com a grandeza interior Sócrates foi
Grande foi longe fez logo o próprio desacorrentamento não
Ligava para desmaio com a presença dele se causava delíquio
Ou desarmonia não ligava para a discordância para o desacordo
Que a liberdade dele causava mas teve sustentação argumentação
Fez a própria defesa não era fala de inconsciente não era espírito
Desmaiado cérebro de desacordado era espírito de corpo presente
Vivo tinha como poucos tiveram até hoje presença de espírito foi
Então desaconselhado a abrir mão da consciência a ser taxado
De inoportuno na sociedade queriam mostrá-lo como um não
Prevenido um não avisado sem conselho então desacompanhado
Só isolado solitário mas a transbordar de coragem de fé de
Confiança de consciência de infinidade de princípios preferiu
Morrer a ter a sua escola como o que está fora de seu lugar antes
Morrer a ser desacomodado ter o discurso desarrumado pelos
Sofistas melhor a cicuta do que a má companhia antes o veneno
Do que ter a reputação execrada publicamente soube como
Ninguém a desacidificar a dor a tirar o sabor ácido de tudo o que
Parecia fel aos normais morreu doce estava sempre alerta atento
Nunca era pego em desacerto erro tolice desacordo não eram
Com ele por mais que quisessem os sofistas não o podiam por
Inoportuno desatinado nunca caberia a ele a alcunha de
Despropositado não era inconveniente não era errado morreu
Para não ser chamado de desacertado a meta de Sócrates era a
De desacerbar a vida do homem livrar do amargor suavizar em 
Vida a si mesmo adoçar abrandar antes da morte o mortal o seu
Destino cruel não foi desacautelado ao beber cicuta foi por opção
Poderia se livrar ser um normal que não tem cautela um pai 
Descuidado ou marido imprevidente ou mestre desleixado morreu
Longe livre disso tudo não se conheceu dele uma insubordinação
Uma falta de respeito ou desacatamento o dia em que também
Desacanhar-me tanto quanto ele nada poderá deter-me nenhum
Acanhamento tornarei esperto desembaraçado vereis um tal
Desacanhado afoito resoluto que farei um desacampar na alma
É o mau a levantar arraial a deixar de estar em acampamento
Dentro do meu coração lógico é que nós hoje bilhões de
Viventes não conhecemos no nosso meio alguém que tem o
Valor a qualidade que Sócrates teve de repente pode até
Acontecer nos bolsões de pobreza de miséria de desgraça
Do nosso cotidiano um representante que tenha agido de
Acordo com que Sócrates agiu com desabuso isento de
Preconceitos desabusado petulante atrevido inconveniente
Tudo o que se pensar se escrever sobre ele com toda a mais
Completa imaginação inspiração põe cada um dos nossos
Bilhões de pensamentos ainda será pouco o que se tem a
Dizer a se escrever sobre ele atingiu em vida o seu desabrocho
Em espírito o desabrochamento se morreu desabrochado nunca
Saberemos não podemos dizer que ele morreu era um
Desapertado solto aberto fica para nós entes de cabeças ocas
Fechadas difícil saber o que realmente aconteceu nosso
Desabrimento aspereza no trato rudeza no rigor do tempo
Não nos deixa à altura de entender tal comportamento somos
Pequenos insignificantes demais choramos no desabrigo pela
Falta de abrigo desamparo somos uns chorões pranteadores
Contumazes lamentadores extremos se algum de nós ficar
Desabrigado exposto à calúnia desprotegido igual a
Sócrates logo iríamos desabraçar as nossas razões retirar os
Braços de nossas cruzes cerrar o abraço com a morte temer o
Desabordamento mesmo a sofrer o desabono o desfavor a
Depreciação que Sócrates não suporto foi o primeiro
Desabonador da morte o primeiro desacreditador dela morreu
Como um desmoralizador maior do que a morte a morte foi
Pequena para ele penso que ela nem existiu ninguém hoje
Pode dizer de Sócrates um desabonado ou um desacreditado
Falto de meios superou os maiores a desabituação não permitiu
A verdade desabitar o ser dele nem a liberdade despovoar a alma
Não era um corpo sem moradores um organismo ermo um deserto
Desabitado não possuía desabilidade nem inabilidade em discutir
Com quem quer que quisesse o desate não foi em vão desabamento
Não foi o dele a parte que desabou duma construção não foi a sua o
Tombamento dele foi o que foi feito pela humanidade poucos sabem
Desabalroar na hora certa desatracar antes da tempestade desprender
As amarras afastar-se do porto poucos são assim conhecem um
Desabalroamento ou uma desatracação da falsidade quando fazem
Um desabafo é com lamúria de prejuízos mostram só a expansão do
Que perderam só vangloriam-se do desafogo fisiológico não conhecem
Desabafamento com moral na hora de demonstrar virtude o espírito
Não está tranquilo qual que é livre na razão? qual é realmente
Desembaraçado para exercer a liberdade? a cidadania? a sabedoria?
O direito? cada um só sabe reclamar por si que é um desagasalhado
Não tem o que comer não tem o que vestir não tem o que beber não
Tem onde morar é o choro do desabafado vão é o choro em vão
Uivam clamam ao céu pelo designativo de afastamento dos céus
Uivam pela privação sentem a ação contrária da natureza só sabem
Amaldiçoá-la perguntam que negação somos nós? puxam os
Cabelos num destoucar descabelado num descascar de frutos podres
Desarticular de palavras blasfemas quer ser mais desagreste algumas
Vezes com rancor que tem sido reduplicativo reforçativo no furor que
Teimam de desinfeliz onde cada um quer ser mais desnudo que outro
Só não sabem que estão a se despir somente da razão da virtude da
Moral do equilíbrio do valor de suportar o que o destino nos legar o
Tribunal que esperava o derruimento de Sócrates a única coisa que
Viu foi o próprio desmoronamento jamais Sócrates se sentiu derruído
Derrubado ou desmoronado nós sabemos disso assistimos que nem
A morte foi capaz de derrubar um homem que conheceu a si mesmo
Nenhuma provação é capaz de prostrar um bom nenhum agouro é
Capaz de fazer cair ou lançar por terra um rochedo do tamanho que
Foi o Sócrates um escolho rígido que derrubamento algum chegou
A abalar quem esperava vê-lo derrubado ou caído ou prostrado
Ficou o próprio derribado arruinado deposto Sócrates venceu até
 A derruba derrotista dos sofistas traçou um roteiro de vida jamais
Conhecido um derroteiro austero elevado arrogância de vencedor
Que só usa a força da inteligência nunca foi errado no rumo que
Devia levar nunca se mostrou desanimado extenuado para
Trabalhar vencido para amar ou derrotado para entender a paz foi
Derrogatório das más leis usou de derrogação no que envolvia os
Maus princípios pediu anulação duma lei ruim por uma lei boa
Derrogador do medo anulador da covardia anulante da mentira
Derrogante da falsidade fez o total derrogamento da ilusão pura
Como um arrastador das paixões não de arrastado por elas um
Destruidor de desejos não destruído por eles um desmoronador
De ilusões não um desmoronado por elas enfim um derrocador
De preconceitos assim obrigado Platão quero agradecer-te pela
Excelente defesa muito obrigado Platão também a Xenofonte
Pelos Memoráveis estou aqui a escrever sobre o Sócrates como
Se Sócrates precisasse que um medíocre qualquer
Escrevesse sobre ele que nos deixou de tudo

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Patagônia, 1155, 3; BH, 01901202011; Publicado: BH, 0180502013.

Os morros choram encharcados das ressacas
Dos deuses festeiros beberam todo o vinho
Em revolta com o fim do vinho em turba
Transformaram todas as águas dos
Mananciais do Olimpo em vinho beberam
Mais de mais vinho comeram carneiros
Assados com temperos de olivais hortelãs
Amaram as ninfas as ninfeias as ninfetas
Fizeram orgias pelos tabuleiros enseadas
Pradarias falésias geraram montanhas
Montes cordilheiras picos cimos cimeiras
Caíram dos cumes cumeeiras rolaram nas
Pedras das pedreiras nas rochas dos rochedos
Dos despenhadeiros nos sais das salinas nas
Areias das dunas nas ondas dos mares se
Penduraram nos relâmpagos nos raios nos
Trovões fizeram tempestades nas torres dos
Conventos igrejas mosteiros castelos
Demais casarões assombrados da idade média
Brincaram com naves espaciais do jeito que
Brincávamos com barquinhos de papel
Nas correntezas depois dos temporais riram dos
Vendavais esses deuses bêbados debochados que
Desprezam fieis ignoram templos altares
Erguidos a eles fazem ouvidos de mercador
Às orações às rezas às cantorias aos hinos
De louvores em suas homenagens esses
Bêbados deuses menosprezam a fé a religião
Abominam milagres são sádicos detestam
Curas de seus seguidores quereis vê-los também
Bêbados a beberem todo o vinho? quereis
Vê-los embriagados? detestam a sobriedade
Amam a loucura a esquizofrenia a
Insanidade dos seus devotos choram quando
Estão alegres fazem os morros chorar
De ressaca incomodam mortos nos cemitérios

terça-feira, 16 de abril de 2013

Não adianta tentar conter a ignorância do indiferente; BH, 0300601º0702001; Publicado: BH, 0160502013.

Não adianta tentar conter a ignorância do indiferente
Reprimir o omisso é quase impossível só mesmo Deus para
Estorvar o ignorante pôr embargo à estupidez embargar
Duma vez por todas lei arbitrária a justiça hoje é para o total
Impedimento dos pobres livrar os ricos de obstáculos poderosos
De qualquer estorvo a justiça serve para validar medida
Preventiva de retenção de bens rendimentos não obstante
Mantém livre jornalista que matou covardemente a amante manda para
Casa criminosos ricos que estavam presos legaliza apagão de
Governos corruptos sei que não adianta mas pergunto
Para que serve a justiça brasileira? para encher as
Penitenciárias de pretos pobres putas marginalizados semianalfabetos
Quem tem embarque no banco da justiça é só o que tem inveja
Orgulho é o que presta o serviço depois de embarcar por
Mãos dalgum amigo já quem anda do lado de fora é
Para o embarricar o meter em barrica defender com barricada
O tesouro dos donos da justiça meu pronunciamento pode
Nem ter embasamento meu princípio não é o que serve
De base a uma construção semântica nem serve de estudo
Da evolução do sentido das palavras através do tempo do
Espaço mas com teor semântico ou não com significação
Ou sem ser significativo mas o que tenho de dizer de relativo
Sem cerimônia com desprezo mesmo das convenções sociais
É que a falta de semelhante a falta de rosto a falta de
Aparência da justiça é uma vergonha podem não embasar
O meu pronunciamento podem não alicerçar mas a ação da
Justiça é de embasbacar causa pasmo falsa admiração
É para pasmar a falta de ufanismo que a justiça recebe
Pois não tem mais crédito nem mais esperança já
Que demonstra o pior embate do povo a maior adversidade
Que encontramos pela vida um coronel que serviu para
Embater produzir choque que resultou em cento e onze mortos
Encontra-se livre por esbarrar na impunidade da justiça é
De se embatucar a qualquer mortal é de se embaraçar
Qualquer raciocínio é se se atrapalhar qualquer tentativa
De quem quer ser justo procurar por justiça é por isso
Que prefiro embebedar-me prefiro tornar-me um bêbedo
Confesso que prefiro embriagar-me quando leio nos jornais
Que deputados ganham exorbitadamente também uma grande
Falta de justiça tudo começa a perturbar a minha mente
É de alucinar-me para que servem deputados minha gente?
Para que servem senadores vereadores? para que servem
Governadores prefeitos? câmaras congresso burguesia elite?
Prefiro embebedar meu ser molhar minh'alma ensopar meu
Espírito sorver o álcool absorver o sangue concentrar para dizer
Que o impregnar disso é que causa a desigualdade a corrução
Da sociedade o fim do estado da esperança de
Qualquer expectativa de liberdade não sinto-me apaixonar por
Nada nem embeiçar-me com algum embelezamento
Tento embelezar o meu texto morro tento embelecer
De súbito o efeito sai ao contrário o belo é um rato
Seco um olho seco para ornamentar a besta bestificar como
Se pudesse obstinar-me inverter embestar-me contra a
Injustiça porém o que falo ninguém escreve o que
Escrevo ninguém ler sou tão insignificante que não
Encontro como embevecer-me causar algum enlevo
Embevecimento ou extasiar alguém não tenho
Êxtase meu ânimo é de embicadura sem ânimo na ação de
Se chegar à embarcação para a amarra dou um nó
Cego não desato mais aí é só o amuar o zangar
Um tal de embezerrar embicar num rochedo é um abicar
Num recife dar de forma de bico num coral espatifar
Literalmente lá se vai o sonho eminente a transformar-se
Num pesadelo iminente tudo de sublime de excelente
Que excede em nós nos outros perdemos igual
A um emir chefe muçulmano que acaba de ser
Destituído do seu emirado a ficar sem o estado ou
Sem a região governados por ele que se sente sem a
Emissão de dignidade não adianta mas um dia
Adiantará aí será diferente o indiferente o omisso
Deixarão de ser omisso indiferente não darão votos
Para eleger seres omissos indiferentes insensíveis insensatos

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Fernando Pessoa, Entre o luar e o arvoredo.

Entre o luar e o arvoredo, 
Entre o desejo e não pensar 
Meu ser secreto vai a medo 
Entre o arvoredo e o luar. 
Tudo é longínquo, tudo é enredo. 
Tudo é não ter nem encontrar.
Entre o que a brisa traz e a hora,
Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a  brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

John Lennon, Imagine.


Imagine

Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não existir países
Não é difícil de fazer
Nada pelo que Matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só

Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade do Homem
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo

Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo viverá como um só

sábado, 6 de abril de 2013

Nietzsche, Vaidade de exceção.

Este homem possui uma grande qualidade que serve para seu
Próprio consolo; seu olhar passa com desprezo sobre o resto de
Seu ser - e quase tudo faz parte desse resto!
Mas ele se repousa de si mesmo quando se aproxima dessa
Maneira de seu santuário; o caminho que o leva até lá já lhe
Parece como uma escada de degraus largos e doces: - e, crueis
Que vocês são!, gostariam de chamá-lo vaidoso por causa disso.

Llewellyn Medina, Fico imaginando.

Fico imaginando pequenos milagres
Desses de que até os milagreiros desdenham
Pois são os que sempre devem ser guardados
E nunca lembrados, e nunca lembrados.

Manoel de Barros, O Fingidor.

O ermo que tinha dentro do olho do menino era um
Defeito de nascença, como ter uma perna mais curta.
Por motivo dessa perna mais curta a infância do menino mancava.
Ele nunca realizava nada.
Fazia tudo de conta.
Fingia que lata era um navio e viajava de lata.
Fingia que vento era cavalo e corria ventana.
Quando chegou a casa de fugir de casa, o menino
Montava num lagarto e eia pro mato.
Mas logo o lagarto virava pedra.
Acho que o ermo que o menino herdara atrapalhava as suas viagens.
O menino só atingia o que seu pai chamava de ilusão.

Manuel Bandeira, Delírio.

Que será que desperta em mim neste momento
Uma inquietação que é quase uma agonia?
Há uma solução lá fora... É o soluço do vento,
E perece sair de minh'alma sombria.

Por que, na solidão desta tarde que morre,
Sinto o pulso bater em pancadas de medo?
Por que de instante a instante uma lembrança ocorre,
A que estremeço como um terrível segredo?

Por que pensei em minha mãe agonizante?
Por que me acode a voz daquele amigo morto?
Será a sombra da morte aquela névoa errante,
E morrerei desamparado e sem conforto?...

Como a casa é deserta? E como a tarde é fria!
Plange cada vez mais o soluço do vento,
E parece sair de minh'alma sombria.
Desânimo... Desesperança... Desalento...

Mãos femininas... Mãos de amante ou de esposa,
Quem me dera sentir em minha árida fonte
O aroma que impregnais, tocando, em cada cousa...
A carícia da brisa... A frescura da fonte...

Mas nenhuma virá, no instante em que me morro,
Dar-me a consolação deste longo martírio.
Nenhuma escutará o grito de socorro
Do meu penoso, do meu trágico delírio.

Que me importa o passado? à minha natureza
Repugna essa volúpia enorme de saudade
Ó meu passado, ruinaria sem beleza!
Eu abomino a tua escura soledade.

O tempo... Horas de horror e tédio da memória...
Ah, quem mo reduzira ao minuto que passa,
 - Fosse ele de paixão inerte e merencória,
Na solitude, no silêncio e na desgraça!

                                                               
                                                               Clavadel, 1914

Casimiro de Abreu, Deus!

Eu me lembro! eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.

E eu disse a minha mãe nesse momento:
"- Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver maior do que o oceano,
Ou que seja mais forte do que o vento?"

Minha mãe a sorrir olhou p'ros céus
E respondeu: - "Um ser, que nós não vemos,
É maior do que o mar, que nós tememos,
Mais forte que o tufão! Meu filho, é - Deus!"

Mário Quintana, Estranhas aventuras da infância.




Era um caminho tão pequenino
Que nem sabia aonde ia,
Por entre uns morros se perdia
Que ele pensava que eram montanhas...


Enquanto a tarde, lenta, caía,
Aflitamente o procuramos.
Sozinho assim, aonde iria?
Porém, deixamos para um outro dia...


Perdido e só, nós o deixamos!

E quando, enfim, ali voltamos
Já nada havia, só ervas más...
Tão vasto e triste sentiste o mundo
Que te achegaste, desamparada...


E foi bem juntos que regressamos,
Ombro com ombro, a mão na mão,
Enquanto, lenta, caía a tarde
E nos espiava a bruxa negra...


E nos seguia a bruxa negra
Que hoje se chama Solidão!

Mário Quintana, A Noite.

A Noite é uma enorme Esfinge de granito negro
Lá fora.
Eu acendo minha lâmpada de cabeceira.
Estou lendo Sherlock Holmes.
Mas, nos ventres, há fetos pensativos desenvolvendo-se...
E há cabelos que estão crescendo, lentamente, por debaixo da terra,
Junto com as raízes úmidas...
E há cânceres... cânceres!... distendendo-se como lentos dedos...
Impossível, meu caro doutor Watson, seguir o fio desta confusa e deliciosa história.
A Noite amassa pavor nas entrelinhas.
É um grude espesso, obscuro...
Vontade de gritar claros nomes serenos
PALLAS NAUSICAA ATHENA Ai, mas os deuses se foram...
Só tu aí ficaste...
Só tu, do fundo da noite imensa, a agonizares eternamente na tua cruz!...

Tito Júlio Fedro, O velho leão, o javali, o touro e o burro.

Todo aquele que perdeu a antiga dignidade é, em (sua)
Pesada queda, alvo de zombaria até de covardes.
O leão, consumido pela idade, destituído de vigor, jazia prostrado.
O javali chegou até ele.
Com dentes fulminantes, vingou, com uma dentada, a antiga injúria.
Em seguida, o touro lhe perfurou o corpo hostil, com chifradas terríveis.
Quando o burro viu que a fera estava sendo maltratada sem defesa,
Arrebentou-lhe a cabeça com coices.
Então ao expirar (o leão disse):
"Suportei indignado que os fortes me ultrajassem, (mas) pareço morrer
Duplamente porque sou coagido, no perecer, a suportar que (também)
Tu (ó burro), (que és a desonra da natureza) me vilipendies."

Nietzsche, No curso de minha viagem.

No curso de minha viagem empreendida através das numerosas morais,
Delicadas e grosseiras, que reinaram e ainda reinam no mundo, encontrei
Certos traços que recorrem regularmente ao mesmo tempo e que estão
Ligados uns aos outros: tanto que no final adivinhei dois tipos fundamentais,
Dos quais se desprendia uma distinção fundamental.
Há uma moral de senhores e uma moral de escravos: - acrescento desde
Agora que, em toda civilização superior que apresenta caracteres misturados,
Se pode reconhecer tentativas de aproximação de duas morais, mais
Frequentemente ainda a confusão das duas, um mal-entendido recíproco,
E por vezes sua estreita justa posição que chega até a reuni-las num mesmo
Homem, no interior de uma só Alma.
As diferenças de valores no domínio moral surgiram, seja sob o império
Que ressentia uma forma de bem-estar a tomar plena consciência daquilo
Que a colocava acima da raça dominada - seja naqueles que eram dominados,
Entre os escravos e os dependentes de todos os níveis.
No primeiro caso, quando são os dominadores que determinam o conceito
"Bom", os estados de alma sublimes e altivos são considerados como o que
Distingue e determina a classe.
O homem nobre se separa dos seres em que se exprime o contrário desses
Estados sublimes e altivos: despreza esses seres.
Cumpre observar em seguida que, nessa primeira espécie de moral, a antítese
"Bom" e "ruim" equivale àquela "nobre" e "desprezível".
A antítese "bom" e "mau" tem outra origem.
Desprezam-se o covarde, o temeroso, o mesquinho, aquele que não pensa
Senão na vantagem imediata; de igual modo, o ser desconfiado, com seu
Olhar inquieto, aquele que se humilha, o homem-cão que se deixa maltratar, o
Adulador mendigo e sobretudo o mentiroso: - é crença essencial de todos os
Aristocratas que o comum do povo é mentiroso.
"Nós os verídicos" - esse era o nome que se davam os nobres na Grécia antiga.
É evidente que as denominações de valores foram primeiramente aplicadas
Aos homens e mais tarde somente, por derivação, às ações.
É por isso que os historiadores da moral cometem um grave erro ao começar
Suas pesquisas por uma pergunta como esta:
"Por que elogiamos a ação que se faz por piedade?"
O homem nobre possui o sentimento íntimo que tem o direito de determinar o
Valor, não tem necessidade de ratificação, estima que aquilo que lhe é
Prejudicial em si, sabe que se as coisas são honradas é ele que as honra, é o
Criador de valores.
Tudo o que encontra em sua própria pessoa, ele o honra.
Semelhante moral é a glorificação de si mesmo.
No primeiro plano, encontra-se o sentimento da plenitude, da potência que quer
Transbordar, a felicidade da grande tensão, a consciência de uma riqueza que
Gostaria de dar e se expandir.
O homem nobre, ele também, vem em auxílio dos infelizes, não ou quase não
Por compaixão, mas antes por um impulso que cria a superabundância de força.
O homem nobre presta honra aos poderosos em sua própria pessoa, mas com isso
Honra também aquele que possui o império sobre ele próprio, aquele que sabe
Falar e calar, aquele que tem prazer em ser severo e duro para consigo mesmo,
Aquele que venera tudo aquilo que é severo e duro.
"Wotan colocou em seu peito um coração duro", assim se lê numa antiga saga
Escandinava, palavras realmente saídas da alma de um viking orgulhoso.
De fato, quando um homem sai de semelhante espécie é orgulhoso por não ter
Sido feito para a piedade; é por isso que o herói da saga acrescenta:
"Aquele que, quando jovem, já não possui um coração duro, jamais o terá!"
Os homens nobres e ousados que pensam dessa forma são os antípodas dos
Promotores dessa moral que encontra o indício da moralidade na compaixão,
No devotamento, no desinteresse; a fé em si mesmo, uma altiva hostilidade e
Uma profunda ironia diante da "abnegação" pertencem, com tanta certeza, à
Moral nobre como um leve desprezo e uma certa circunspecção com relação
À compaixão e ao "coração quente". -
São os poderosos que sabem honrar, essa é uma arte, o domínio em que são inventivos.
 O profundo respeito pela velhice e pela tradição - essa dupla veneração é a base do
Mesmo direito - a fé e a prevenção em favor dos antepassados e em detrimento das
Gerações futuras são típicas na moral dos poderosos; e quando, ao contrário, os
Homens das "ideias modernas" que acreditam quase instintivamente no "progresso" e
No "futuro", perdendo cada vez mais a consideração pela velhice, mostra já
Suficientemente com isso a origem plebéia dessas "ideias".
Mas uma moral de senhores é sobretudo estranha e desagradável ao gosto do dia
Quando afirma a severidade de seu princípio, que não se tem deveres senão para com
Seus iguais; que a respeito dos seres de classe inferior, com relação a tudo que é
Estranho, pode-se agir à sua maneira, como "o coração mandar" e, de qualquer
Mameira, mantendo-se "além do bem e do mal": - pode-se, se se quiser, usar aqui de
Compaixão e daquilo que a ela se liga.
A capacidade e a obrigação de usar amplo reconhecimento e de vingança infinita -
Somente no âmbito de seus iguais - a sutilidade nas represálias, o refinamento na
Concepção da amizade, uma certa necessidade de ter inimigos (para servir de algum
Modo de derivativos às paixões como a inveja, a agressividade, a insolência e, em
Suma, para poder ser um amigo verdadeiro): tudo isso caracteriza a moral nobre que,
Já o disse, não é a moral das "ideias modernas", o que a torna hoje difícil de conceber,
Difícil também de desenterrar e descobrir. -
Mas é coisa bem diferente com a outra moral, a moral dos escravos.
Suponhamos que os seres sob servidão, oprimidos e sofredores, aqueles que não são
Livres, mas incertos de si próprios e cansados, que esses seres comecem a moralizar:
Que ideias comuns encontrariam em suas apreciações morais?
Provavelmente gostariam de exprimir uma desconfiança pessimista contra a condição
Humana, talvez uma condenação do homem juntamente e de toda sua condição.
O olhar do escravo é desfavorável às virtudes dos poderosos: o escravo é cético e
Desconfiado e sua desconfiança é fina com relação a todos os "bens" que os nobres
Veneram, gostaria de se convencer que, mesmo lá, a felicidade não é verdadeira.
Ao contrário, apresenta à plena luz as qualidades que servem para amenizar a
Existência daqueles que sofrem: aqui o vemos prestar honra à compaixão, à mão
Complacente e segura, venerar o coração ardente, a paciência, a aplicação, a
Humildade, a amabilidade - de fato, essas são as qualidades mais úteis, são
Praticamente os únicos meios para aliviar o peso da existência.
A moral dos escravos é essencialmente uma moral utilitária.
Chegamos no verdadeiro lar de origem da famosa antítese "bom" e "mau": no
Conceito "mal": - se inclui tudo aquilo que é poderoso e perigoso, tudo o que possui
Um caráter temível, sutil e forte e não desperta nenhuma ideia de desprezo.
Segundo a moral dos escravos, o "homem mau" inspira o temor; segundo a moral dos
Senhores, é o "homem bom" que inspira temor e quer inspirá-lo, enquanto o "homem
Mau" é o "homem desprezível".
A antítese atinge seu auge quando, por uma consequência da moral de escravos, uma
Forma de desdém (talvez mais leve e benevolente) acaba por ser ligada mesmo aos
"Homens bons" dessa moral.
De fato, o homem bom, segundo a maneira de ver dos escravos, deve ser em todo caso
O homem inofensivo.
Ele é bonachão, talvez um pouco estúpido, em resumo, é um bom homem.
Em toda a parte onde a moral dos escravos chega a dominar, a linguagem mostra uma
Tendência a aproximar as palavras "bom" e "tolo". -
Última diferença fundamental: a aspiração à liberdade, o instinto de felicidade e todas
As sutilezas do sentimento de liberdade pertencem à moral e à moral dos escravos tão
Necessariamente como a arte e o entusiasmo na veneração e no devotamento são o
Sintoma regular de um modo de pensar e de apreciar aristocrático. -
Agora se pode compreender, sem mais explicações, porque o amor como paixão - é
Nossa especialidade européia - deve ser necessariamente de origem nobre: sabe-se
Que sua invenção deve ser atribuída aos cavaleiros-poetas provençais, esses homens
Magníficos e engenhosos do "alegre saber", aos quais a Europa deve tantas coisas e quase ele própria.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Tomás Antônio Gonzaga, Lira XXX

Cupido tirando
Dos ombros a alvaja
Num campo de flores
Contente brincava.

E o corpo tenrinho
Depois, enfadado,
Incauto reclina
Na relva do prado.

Marília formosa,
Que ao Deus conhecia,
Oculta espreitava
Quanto ele fazia.

Mal julga que dorme
Se chega contente,
As armas lhe furta,
E o Deus a não sente.

Os Faunos, mal viram
As armas roubadas,
Saíram das grutas
Soltando risadas.

Acorda Cupido,
E a causa sabendo,
A quantos o insultam
Responde dizendo:

"Temíeis as setas
"Nas minhas mãos cruas!
"Vereis o que podem
"Agora nas suas".

Babilak Bah, o que sai.

O
Que
Sai
Da
Boca
É o
Que
Se
Cria.

Babilak Bah, A pedra.

A pedra medita na água
A serpente habita debaixo da pedra
Guardiã de segredos
Filosofais.

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, O mesmo Teucro.

O mesmo Teucro duce et auspice Teucro
É sempre cras - amanhã - que nos faremos ao mar.

Sossega, coração inútil, sossega!
Sossega, porque nada há que esperar,
E por isso nada que desesperar também...
Sossega...
Por cima do muro da quinta
Sobe longínquo o olival alheio.
Assim na infância vi outro que não era este:
Não sei se foram os mesmos olhos da mesma alma que o viram.
Adiamos tudo, até que a morte chegue.
Adiamos tudo e o entendimento de tudo,
Com um cansaço antecipado de tudo,
Com uma vontade prognóstica e vazia.
O que há em mim é sobre tudo cansaço -
Não dito nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço,
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseja o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço.                                                                            

                                                                                                           0/10;1934




Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, O frio especial.
Publicado: BH, 050402013.

O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre.

                                                                                                            (9/10/1917)

Philippe Desportes, Ícaro.

Precipitou-se aqui o jovem audacioso,
Que para ao Céu voar mostrou muita coragem:
Seu corpo aqui tombou, despido de plumagem,
Deixando todo herói dessa queda invejoso.

Ó venturoso afã de um peito glorioso
Que um bem enorme extrai de exígua desvantagem!
Venturoso revés que merece homenagem,
Pois o vencido faz tornar-se vitorioso!

Não temeu seu verdor aquela estranha via,
A força lhe faltou, não faltando ousadia:
Abrasou-o do Astro-Rei o ardente fogaréu.

Morreu porque buscou generosa aventura,
O Céu foi seu desejo, o mar a sepultura:
Houve anseio mais belo ou rico mausoléu?

Dia de finados na parede da minha cozinha hoje; BH, 0201102000; Publicado: BH, 050402013.

Dia de finados na parede da minha cozinha hoje
É dia de finados converso com os meus mortos numa
Foto grande com moldura tenho a me fazer companhia
Nada mais nada menos do que a Clementina de Jesus
Em obra do fotógrafo Roberto Garcia vejo a Clementina
De Jesus todos os dias reverencio-a porém hoje é
Diferente hoje é dia de conversar com todos em
Frente em quadro menor vejo o Zé Keti em foto de
Autor desconhecido a segurar uma bisnaga na
Mão logo depois da porta do banheiro deparo
Com a grandeza de Nelson Cavaquinho também
Do mesmo fotógrafo de Clementina de Jesus no vão entre
As duas janelas está o Carcará o João do Vale na
Mão um microfone a foto é presente dado a mim pelo
Grande amigo Luberto que não sei por onde anda
A seguir vem uma fotografia com Jair do Cavaco
Zé Keti outros dois ao violão depois da porta
Outra foto antológica de dois mendigos a se beijar
Também de Roberto Garcia uma gravura de
Edson Dantas A Morte de Luiz Buñuel na
Parede do lado da geladeira o único que penso
Que ainda está vivo é o Jards Macalé em show no
Seis e Meia também presente do meu amigo
Luberto na parede atrás de mim uma pintura à mão
Com dedicatória do autor da cantora Billie Holyday
Um quadro com Cartola a aparecer parte do rosto
Zé Keti entre eles o Nelson Cavaquinho com violão
Detalhe: no outro quadro com o Nelson ele segura
Um cavaquinho à frente dum microfone como se
Estivesse a dar um show nalgum lugar inda na
Parede às minhas costas tenho a Elizeth Cardoso a cantar
Também ao microfone o retrato do Futuca da
Velha Guarda um dos fundadores da Imperatriz
Leopoldinense em foto de Atayde dos Santos o Tatá
Esses são os mortos que me acompanham nas vãs
Madrugadas da minha cozinha a quem reverencio
Hoje no dia dos finados a mandá-los os meus
Recados recomendações a esperar as mensagens
Deles também para fazer um remate feliz duma obra,
Como o ourives trabalha o ouro o sinal gráfico que se
Tem para abranger numa só designação vários objetos,
Ou termos é por isso que quero ser o que explica um
Fato um fator decisivo uma ferramenta para apertar
Desapertar peças mecânicas a peça para abrir fechar
Um mecanismo entender para não transformar
Este nosso mundo num charvascal num lugar imundo
Onde nem os mortos queiram ficar preferem usar o
Chavão a expressão muito gasta pelo uso de passar desta para
A melhor não manter esse chauvinismo o nacionalismo
Exagerado de que antigamente era motivo de orgulho
Hoje é chato falar em nacionalismo incomoda
Mais do que piolho na púbis virgem é inoportuno dar um ar
De semblante achatado de superfície sem relevo a chatice
Que é falar em nacionalismo serve para chatear até
O presidente só o vejo aborrecer-se quando é para tratar
Do assunto prefere passear pelas marambaias em chata
Embarcação de carga de fundo achatado porém com
Luxo à altura da imagem dele que precisa de barras de aço
Para sustentáculo como se fosse tão pesado quanto
Carroceria de veículos automóveis para suportar o ego
Do presidente só um chassi pois não é a chapa
Sensibilizada que se coloca na câmara fotográfica
Deveria da mesma forma ser reverenciado entre os mortos
Mas não entre os meus ilustres mortos sim entre os
Mortos indigentes sem identificações dos cemitérios
Clandestinos tenho que chasquear dele tenho que zombar
Escarnecer é só o que merece o que posso fazer