vive a tentar a me tirar do quarto
a me levantar do chão
veio aqui à porta
bateu palmas de leve
perguntou não quer ir para lá não?
nem respodi só espalmei a mão
para um tapinha
continuei sentado no chão
pai foi à janela
do quarto da irmã mais velha
olhou a rua
olhou a matinha que tem
em frente ao barraco que
a gente mora aqui na boca da favela
e a matinha é até muito legal
tem muitas árvores preservadas
moram muitos miquinhos chamados saguis
antigamente apelidados de soinhos
pai vive a me assediar
para que visite esses lugares
não quero nem saber
penso que hoje esteja de bom humor
pois não briguei
nem agredi pai
aproveito o silêncio
fico quieto
pai voltou da janela
se sentou à mesa
antes colocou
dois gomos de linguiça no feijão
mais um pouco d'água que
o almoço se completará com arroz
farofa de ovos
pai fala que por aí
tem gente a comer ossos
pés de galinha
cabeças de peixe
a disputar comida no lixo
a pedir coisas nos semáforos
aí até me sinto um ser no luxo
apesar dum cara que
pai chama de inominável
ter cortado um benefício meu
BH, 040502022; Publicado: BH, 0701202022.
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