terça-feira, 6 de dezembro de 2022

nem sei o que é que está escrito aqui

nem sei o que é que está escrito aqui
mas sei o que é que está escrito nas estrelas
e nas estrias das entranhas dos universos
e nem sei o que dizer
ou o que falar
mas sei o que dizem
e o que falam os organismos
e os órgãos dos infinitos
e ouço os gritos dos mundos que são
engolidos pelos buracos negros
e assunto o chiar do sol ao se espreguiçar
para nascer
e bocejo à boca da noite igual a minha filha
a bocejar para dormir
e nem sei o que escuto
e nem sei o que ouço
ou ausculto dos zumbidos
e dos zunidos normais mas vibro em todas
as vibrações celestiais
e os sussurros das fontes nos escuros
e os murmúrios dos riachos
e dos regatos a espantar os augúrios
e sorrio para os rios como se fosse uma fonte
defronte dum monte
e não sei se são fiji é que sou sarará ararat
e não sei se são sião
é que sou ancião cafuzo cabloco confuso
confúcio
e no cio criolo mulato moreno pardo preto
e nem sei mais nada que sou mas sou tudo
que sou
e até o nada sou
e nado no barro branco
e na argila
e na tabatinga
e tenho da caatinga a catinga natural que
exala o vivo
e me disfarço com a fragrância da flor do
meu cadáver a se decompor
e num canto espanto as moscas
e deixo as abelhas na minha pele a captar o
pólen
e a sugar o néctar
e o leite e o que
mais querem do meu teor

BH, 0130602022; Publicado: BH, 0601202022.

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