sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

alguém para dizer alguma coisa

alguém para dizer alguma coisa
num momento de aflição 
e a rua está vazia
e a avenida perdida
e a cidade fantasma
e rente aos muros as sombras esvanecem-se
e não se ouve um assobio de ave
ou um pio dum piado
ou um cicio de serpente
ou um sibilo de víbora
ou um chacoalhar de cascavel
e ninguém se apresenta no deserto
nenhuma miragem no oásis
e o que resta lamenta
ou chora melancolia
ou implora em preces
e não se diz a palavra chave
ou a palavra mágica
ou a senha que num golpe de lucidez
destravou o universo
e organizou o caos no organismo
e perfilou nos estados da matéria
a esperança de unificar os átomos
e acelerar as partículas das moléculas
numa geração de energia nunca vista
nem no sol que de milênios em milênios
preserva a vida onde a morte impera
e espera aí parece que agora um ser
foi capaz de dizer a palavra reveladora
e a conjectura escancarou a lucidez
e as soluções engoliram os mistérios
e espatifaram os enigmas
e gravou-se no paredão com o fogo do núcleo
o que é o universo para quem pode criar um universo?
e as palavras invencíveis
e invulneráveis continuam lá para quem
quiser ler
ou gravar outra inscrição com fogo na face
da montanha de diamante
e nunca mais se esperou de alguém alguma
coisa para se ouvir pois todas as coisas estão
aí ditas com suas mensagens infinitas

BH, 01601002022; Publicado: BH, 03001202022.

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