terça-feira, 20 de dezembro de 2022

nunca mais vou sair por aí a procurar

nunca mais vou sair por aí a procurar
um ponto de apoio
uma alavanca
uma pedra fundamental
ou uma rocha filosofal
ou uma pedreira descomunal
ou um rochedo marco inaugural
e sem fé transporei montanhas
e a pé vencerei cordilheiras
e de vertentes em vertentes
e de veredas em veredas
e a costear as falésias
e a ombrear os desfiladeiros
e os paredões consagrados serei a ponte no
abismo universal
e a gota d'água que transbordará os oceanos
e a molécula de ar que sufocará as atmósferas
e o grão de areia que desmoronará as dunas
e o raio de luz que esgotará os sois
e serei o excesso dos excessos
e fartarei os famintos famélicos fominhas
e darei de beber aos sedentos
e pararei num despenhadeiro
e nunca mais procurarei agulha no palheiro
e nunca mais o eco ecoará a maldição de nunca mais
e à beira dos milenares canions virarei
a estátua de sal por não ter olhado para atrás
e em letras de fogo-fátuo escreverei no
pedestal do monumento o fatídico epitáfio
do corvo nunca mais

BH, 01501202022; Publicado: BH, 02001202022.

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