Poeira sólida
Migalhas de sangue coagulado
Vida líquida
Corpo consumido
Alma sucumbida
Espírito infrator
Mente indigente
Olho enganador
Mundo sem amor
Ar rarefeito
Poeira gasosa
Veias furadas
Heomorragia crônica
Paz abalada
Doenças incuráveis
Hospitais infernais
Atmosfera moribunda
Aspecto quadrado
Sol congelado
Céu apagado
Natureza exterminada
Ódio consumado
E quero ver
Aonde tudo vai chegar
Língua enferrujada
Garganta dilacerada
Saliva evaporada
Vapor cúbico no cubo
De lama espiral
Donde afunda
No horizonte disfarçado
Um mundo atormentado
Mundo velho apodrecido
A cair aos pedaços
Levados pela água horizontal
De lágrimas verticais
De choro de crianças famintas
Órfãs de guerras cruas
Sem tempero e sem sal
E todo mundo a comer chumbo
Chumbo nuclear e atômico
Aço derretido
Boca costurada
Agulha envenenada
Linhas de ferro
Fome aguda
Morte certa
Morte cega
Morre cego
Na poeira levantada
Com o tombo mortal
De corpo morto
Corpo surdo
Que fica estirado
Na beira da poeira poluída
Na beira da vida
Até virar poeira
De germes micros
De vermes micros
Poeira concebida
Que mata a luz
Poeira encaracolada
Poeira atômica
Poeira nuclear
Poeira mundial
Mundo oval
Mas não comparado
A um ovo
Dum ovo nasce vida
Dum mundo vem um morto
Poeira mortal cheia de radiação
Migalhas de mortos
Restos de corpos
Ecos de gemidos
Sons de inexistência
E quero ver
Aonde vai dar
Essa vida expelida
Sem um raio de luz
Sem um raio de sol
Sem uma gota de chuva
Sem um ponto de ar
Sem um ponto de vista
Sem um ponto final
Sem um ponto de amor
Sem um pouco de amor
Poeira elevada
Mais alta que o céu
Poeira da morte
Já desceu seu véu.
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