sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

"Penúltimo Caderno", Desde criança, SL/SD; Publicado: BH, 03101202021.

Desde criança
Que tentava segurar a mãe
Nunca levou um papo legal
Não sabia do passado
Praticamente não conhecia a mãe
O que sentia da vida
O que pensava do amor
Não sabia de nada
Parecia um estranho
E agora o pai longe
Não queria se sentir tão distante
Mas era totalmente ao contrário
Daquilo queria ser
Ou quer talvez a mãe
Queria que fosse
E só causava desgosto
E só causava náuseas
Era um grosso
Era um bruto
E a culpa não era da mãe
Que só quis o bem
E era um surdo
E era um mudo
E era um cego
E não soube entender a mãe
Mas a queria muito
E a amar também
E sentia falta
E toda noite chorava
E era um tímido
E não tinha coragem
De encarar a vida
E não tinha coragem
De dialogar com a mãe
E de se comunicar
E pedia para ser homem
E digno de a chamar de mãe
E a ouvir um fala comigo
E um mostrar de caminho
Que devia seguir
E que ainda não era tarde
E que queria ser feliz
E que queria viver
E abraçar e amar
E estar sempre junto
E não acreditava na morte
Mas que se um dia
Isso acontecesse
Que podia ter a certeza
O coração não morre
O amor não morre
A alma não morre
E que no coração dele o amor dela
E que no coração dela o amor dele
E que assim sempre viver
E delirava com a mãe
A segurar a mão
E com o sorriso
E com o perdão
E com a ajuda
Para nascer de novo
E morreu a sonhar
Que a mãe ia perdoar
E a olhar nos olhos
E não o deixar sofrer.

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