domingo, 26 de dezembro de 2021

"Penúltimo Caderno", A caminho da roça, SL/SD; Publicado: BH, 02601202021.

A caminho da roça
Que a chuva já vem
Cuidado com a cobra
No meio da estrada
E cuidado com a onça
Na mata também
Pegues a espingarda
Bem carregada
E vais depressa
Sem correr
Leves o burro
E a mula
Leves o jumento contigo
Chega lá
E ponhas o milho no cocho
Para os bichos comerem
Soltes os cachorros
E prendas as galinhas
Ponhas os galos em separados
E a caminho da roça
Que a noite já vem
Se ficares para atrás
Vais te perder
Olha as estrelas que enfeitam
O quase fim da tardezinha e
Olha as estrelas que enfeitam
A quase de noitinha e
Não esqueças da boiada e
Fala para os homens
Buscá-la na manga
Vê se apanhas água na cacimba
Encha o pote
Abasteça a moringa
Faze a janta
E pegues a viola
Deixa minha janta na cuia
Em cima do fogão
A farofa na gamela de capitão
E a viola atrás da porta
Faze tudo e vais dormir e
Quando chegar logo mais à noite
Canto para ti e
Vou cantar a noite toda
Para embalar teu sono
Até o dia amanhecer e
A caminho da roça
Sem pensar em sofrer
Amo-te demais
Quero-te demais
E não posso te perder
Ponhas amor em tudo aqui
Que a paz já vem ali
Agora venhas para a cama
Que já vou dormir
Um beijo para ti
Com gosto de pitanga
Um abraço de tamanduá
E um carinho de onça
Gosto muito de ti
Boa-noite meu amor
Não durmo sem ti
Boa-noite meu amor
Não sonho sem ti
Boa-noite meu amor
Não vivo sem ti.

2 comentários:

  1. Lindo demais! E bem abrangente, pois conseguiu, de maneira simples e direta, viajar e me fazer viajar por esse universo bucólico.

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