quarta-feira, 3 de agosto de 2022

não encontrei a estrela que caiu da cumeeira

não encontrei a estrela que caiu da cumeeira
da soleira do barracão da minha avó na subida
da quebrada do barranco no começo do morro
e o picumã deixou o terno de linho branco do 
meu tio hugulino preto
e o meu tio
e o terno
descerem o morro do cemitério circunspectos
o anel de ouro no dedinho mindinho
e no anel uma pedra reluzente vermelha
e diziam que era rubi
e a pender da algibeira do colete uma corrente
que prendia um relógio omega ferradura
legítimo dito uma raridade
e lá ia o meu tio respeitado
respeitador
e brigador
e deflorador
e falavam as bocas tortas que carregava por
debaixo do colete um punhal cravejado
e uma garrucha carregada azeitada
nos bolsões das calças largas muitos pacotes
de dinheiro vivo pois não confiava em bancos
e muitos envelopes algodoados com pedras
preciosas razão da qual mantinha as unhas
grandes bem cuidadas que era para fazer
cócegas nas mulheres
e pegar as pedras preciosas sem sujar
ou arranhar
ou embaçar
e penduraram o terno do meu tio no pau de
fumeiro que servia para defumar carnes
e linguiças
e que ficava em cima do fogão de lenha da minha avó a aproveitar o calor do fogo o terno de branco que era ficou pretinho como carvão

BH, 0701002021; Publicado: BH, 030802022.

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