segunda-feira, 1 de setembro de 2025

aqui do barranco da boca da entrada da favela

aqui do barranco da boca da entrada da favela
deparo com os santos que saem de nadrugada
para os trampos quando não dão de cara com a
polícia assassina voltam aos seus barracos aos
cantos aos seus barracões uns bêbados outros
nem tanto só fumam uns cheiram umas
queimam pedras o que resta para enfrentar a
elite confrontar a burguesia quando não
conseguem desviar das rotas dos itinerários
das balas perdidas são atingidos em cheio no
meio da cara na cabeça na pele no osso que
alvoroço seu moço não tenho nem para o
almoço sou trabalhador assalariado mínimo
não sou mimado sou minado não fazes isso
não não tenho pai não tenho mãe nunca roubei
sou preto pelo destino negro por antepassado
ancestral se soubesse que seria assim tão ruim
ser preto pobre não teria nem nascido se
dependesse de mim tira a bota de cima da
minha cara não consigo respirar minha nega vai
chorar se eu não chegar se ela tiver chegado
viva hoje no barracão isso é marmita suja vazia
celular comprei à prestação podes levar para
averiguação se não quiseres não precisas nem
devolver me deixas chegar em casa mesmo
com a cara amassada cheia de lama não
carrego arma só carrego meu drama meu
carma minha sarna de ser filho de negra com
preto de pobre sem vda ou até sem destino
agradeço ao senhor pela oportunidade nem
sinto mais o safanão nem o pisão no meio da
cara suja tenho que correr para a felicidade do
meu barracão a alegria do meu coração

BH, 040602025; Publicado: BH, 01⁰0902025.

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