domingo, 25 de março de 2012

Alberto Caeiro, Primeiro prenúncio; BH, 0250302012.

Primeiro prenúncio da trovoada de depois de amanhã, 
As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço. 
Da trovoada de depois de amanhã? 
Tenho a certeza, mas a certeza é mentira. 
Ter certeza é não estar vendo. 
Depois de amanhã não há. 
O que há é isto: 
Um céu de azul um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte, 
Com um retoque sujo em baixo como se viesse negro depois. 
Isto é o que hoje é, 
E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo. 
Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã? 
Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã 
Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido. 
Bem sei que a trovoada não cai da minha vista, 
Mas se eu não estiver no mundo, o mundo será diferente — 
Haverá eu a menos — 
E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada. 
Seja como for, a que cair é que estará caindo quando cair.

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