quarta-feira, 21 de março de 2012

Alberto Caeiro, O mistério das coisas; BH, 0210302012.

O mistério das coisas, onde está ele? 
Onde está ele que não aparece 
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério? 
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore? 
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso? 
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas, 
Rio como um regato que soa fresco numa pedra. 
Porque o único sentido oculto das coisas 
É elas não terem sentido oculto nenhum, 
É mais estranho do que todas as estranhezas 
E do que os sonhos de todos os poetas 
E os pensamentos de todos os filósofos, 
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser 
E não haja nada que compreender. 
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: — 
As coisas não têm significação: têm existência. 
As coisas são o único sentido oculto das coisas.

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