O único dom que um dia
Por acaso me procuraria ter
É em escrever coisas belas
Tipo Pessoa Drummond
Manoel de Barros Cruz e Souza
Aquele beija-flor que vejo agora
Neste exato momento
Daqui da janela da sala
Acrediteis quem quiser
Por enquanto contento-me
Em sobreviver na agonia
Na angústia na cegueira
Não saber ver de perto
Não saber enxergar de longe
Nem entender o universo
Por mais simples transparente
Que as coisas parecem ser
Fecho-me no meu casulo
Na complexidade do meu ser
No contexto da minha existência
Não consigo abrir a mão
Clarear a mente
Elevar a voz
Numa singela oração
Ser límpido igual a luz
Sofro na ignorância
Sofro na escuridão das trevas
Na mágoa do meu olhar
Na mudez do meu grito
Espero um dia despertar
Juntamente com o amanhecer
Brilhar igual ao sol
Até ao entardecer
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