Graças às divisões mórbidas que a loucura das nacionalidades suscitou
E ainda suscita entre os povos da Europa, graças aos políticos de vista
Curta e mãos prontas que reinam hoje com a ajuda do patriotismo, sem
Suspeitar a que ponto sua política de desunião é fatalmente uma simples
Política de entreato - graças a tudo isso e a muitas outras coisas qinda que
Não podem ser ditas hoje se desconhece ou se deforma mentirosamente os
Sinais que provam de maneira mais manifesta que a Europa quer se tornar una.
Todos os homens um pouco profundos e de espírito abrangente que esse
Século viu direcionarem para esse objetivo único o trabalho secreto de sua
Alma: eles quiseram traçar os caminhos de uma nova síntese e tentaram
Realizar em si mesmos o europeu do futuro; se pertenceram a uma "pátria",
Isso só ocorreu nas regiões superficiais de sua inteligência ou nas horas de
Desânimo ou quando a idade chegou - descansavam de si mesmos,
Tornando-se "patriotas".
Penso em homens como Napoleão, Goethe, Beethoven, Stendal, Schopenhauer.
Não encontrei em reprovação se a nomes juntar Richard Wagner, acerca do
Qual não é preciso deixar-se induzir a formar um falso conceito sobre a base de
Seus próprios equívocos - a gênios de usa espécie raramente lhes é dado
Compreender-se a si mesmos.
E que não se deixe ninguém enganar pelo humor indevido, por meio do qual,
Nesse mesmo movimento na França se procure rejeitá-lo e expulsá-lo: isso não
Impede que subsista um parentesco estreito e íntimo entre o romantismo tardio
Dos franceses dos anos 1849 e Richard Wagner.
Eles têm em comum as mesmas mais elevadas e mais profundas aspirações: é a
Alma da Europa, da Europa uma que, sob a veemente diversidade de suas
Expressões artísticas, se esforça para outra coisa, para uma coisa mais elevada.
- Para quê?
Para uma luz nova?
- Para um novo sol?
Mas quem se empenharia em explicar com precisão o que não souberam enunciar
Claramente esses mestres, criadores de novos modos de expressão artística?
Uma só coisa é certa, é que foram atormentados por um mesmo ímpeto, é que
Pronunciaram da mesma maneira, eles os últimos grandes investigadores!
Todos dominados pela literatura que impregnava até seus olhos e seus ouvidos,
Foram os primeiros artistas que tiveram uma cultura literária universal; quase
Todos os próprios escritores ou poetas, manejando quase todos diversas artes e
Sentidos e interpretando-os pelo outro (Wagner, como músico é um pintor, como
Pintor é um músico e, de uma maneira geral, enquanto artista é um comediante);
Todos fanáticos da expressão a qualquer custo - penso sobretudo em Delacroix,
Parece muito próximo de Wagner - todos grandes exploradores no domínio do
Sublime, como também do feio e do hediondo, maiores inventores ainda em
Matéria de efeito, de encenação, de exposição; todos tendo um talento muito
Além de seu gênio - impregnados de virtuosismo até a medula dos ossos,
Conhecedores dos acessos secretos daquilo que seduz, encanta, coage, subjuga;
Todos inimigos natos da lógica e das linhas retas, sedentos do estranho, do
Exótico, do monstruoso, do disfarçado, co contraditório; como homem, todos
Tântalos da vontade, plebeus aventureiros, igualmente incapazes de um andar
Nobre, medido e lento na conduta de sua vida e em uma produção artística -
Pensem, por exemple, em Balzac - trabalhadores desenfreados, devorando-se a
Si mesmos à força de trabalho; inimigos das leis e revoltados em moral, ambiciosos
E insaciáveis sem medida, sem descanso; todos, enfim, chegando a se dilacerar e a
Desmoronar aos pés da cruz cristã (e tinham razão: de fato, quem dentre eles teria
Tido bastante profundidade e espontaneidade criadora para uma filosofia do Anticristo?.)
Em suma, essa foi toda uma espécie de homens superiores até a loucura, magnificamente
Violentos, eles próprios exaltados e exaltando os outros com um ímpeto soberbo somente
A ensinar a seu século - ao século da multidão! - o que é um "homem superior"...
Que os amigos alemães de Wagner se perguntem se há na arte wagneriana algo que seja
Especificamente alemão ou se o caráter distintivo dessa arte não é precisamente derivar
De fontes e de sugestões supra-alemãs: nessa avaliação, deve-se dar o lugar que merece ao
Fato de que foi preciso Paris para dar a Wagner sua marca própria, que ali se sentiu levado
A um irresistível entusiamo pela época mais decisiva de sua vida e que não se formulou
Definitivamente a ele próprio seus projetos a não ser quando teve sob os olhos como modelo
O socialismo francês.
Uma análise mais delicada estabelecerá talvez, em honra daquilo que há de alemão em
Wagner, que fez tudo de uma maneira mais forte, mais audaciosa, mais rude, mais elevada
Que não poderia tê-lo feito um francês do século XIX - graças ao fato de que nós alemães
Ficamos mais próximos da barbárie que os franceses; - talvez mesmo que o Wagner criou de
Mais surpreendente será para sempre inatingível, incompreensível, inimitável para toda a raça
Latina tão tardia: refiro-me aà figura de Siegfrield, esse homem muito livre, demasiadamente
Livre, talvez, e muito rude e demasiado alegre e demasiado saudável e demasiado anticatólico
Para o gosto de povos muito velhos e muito civilizados.
Talvez mesmo que esse Siegfrield antilatino fosse um pecado contra o romantismo; mas esse
Pecado, Wagner o resgatou amplamente em sua triste e confusa velhice, antecipando ura
Moda que depois se ornou uma política, se pôs, com toda a sua veemência religiosa, a pregar
Aos outros, senão empreendendo ele mesmo, o caminho que leva a Roma;
Para evitar equívocos sobre essas últimas palavras, vou recorrer a alguns versos saborosos
Que revelarão a todas as orelhas mais rudes, o que eu quero - o que quero do "Wagner do
Último período" e de sua música de Parsifal:
- É ainda alemão? -
É dos corações alemães que surgiu esse pesado grito
E são os corpos alemães que assim se mortificam?
Alemãs são essas mãos estendidas de padres que abençoam,
E alemães esses ferimentos, essas quedas e esses vacilos,
Esses incertos zumbidos?
Essas olhadelas de monja, esses Ave, esses bim-bam?
Esses êxtases celestes, esses falsos arrebatamentos,
- -E ainda alemão?
Reflitam!
Estão ainda às portas,
Pois o que ouvem, é Roma,
A fé de Roma, sem palavras!
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