sexta-feira, 18 de novembro de 2022

e agora não vejo mais o sol

e agora não vejo mais o sol
e agora não vejo mais a lua
e nem as estrelas
e até júpiter
e vênus
já sumiram das minhas madrugadas
quase manhãs de manhãzinhas
e agora não posso mais ficar bêbado
como gostaria para parir poesias
todos os santos dias
e os profanos também
e agora são só dilemas
e não posso mais dar vidas a poemas
é que o hormônio testosterona
não destila mais nos desfiles
dos desfiladeiros virginais
é que a adrenalina
não entra mais em erupção
a fazer pulsar o coração
e a libido esfriou
e apagou o fogo do tesão
e a brasa do tição que virou carvão
e o carvão que era brasa virou cinza
e agora jeremias é só lamentações
sem salmos de davi
sem profecias de absalão
e penso que também
sem a longevidade de matusalém
e nem oração para dizer amém
e emparedado a degredado
ando descuidado desgarrado
e fico mais calado mesmo sem estar
sob baioneta calada de baixo calão
ou de lâmina de facão mas
sem ter nada para falar ao sol
e sem falar à lua
ou a vênus
ou a júpiter
só este boneco de defunto mudo
que perdeu a ternura
à boca da sepultura voraz
a querer devorar carne
em avançado estado de putrefação

BH, 030502022; Publicado: BH, 01801102022.

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