não há uma ressonância ou uma reverberação
não há nenhum frêmito trêmulo
ou uma flâmula que sejam
não há um eco dum equalizador natural
ou duma resposta dum sobrenatural
não há uma resposta nem do vento
é só o vento a passar incólume entre as coisas
é só a folhagem a vibrar na ramagem
os galhos a balançar
os caules fenderem fendidos
a flor a murchar no fim da tarde
cada um tem um arroubo outro um augúrio
outrem um presságio ou um silêncio de morte
que acompanham os solitários na solidão
não se ouve um arrastar de cadeira
ou um assoar de nariz entupido
ou uma tosse mesmo singela
ou um escarro ou um arroto cavernosos
o domingo parece um morro morto
ao lado dum lago morto
ao longe há uns latidos de cachorros
é o que dizem meus ouvidos ensurdecidos
nas minhas vistas meninas desvirginadas
as manchas nas paisagens
cofio o queixo embranquecido
a cabeça nua já empoeirada que enganava
empoderada leve igual a uma nuvem de pluma
densa igual a uma treva abissínia ou um
toco de ébano abandonado numa esquina cujos pensamentos abandonaram as moradias
evaporaram nas névoas das flacidezes
flatulências fumaças simulacros ondas
mentais que não encontram onde aportar
voltam vazias aos portos dos cais tais naus
há séculos à deriva em alto mar devido
a calmaria não descobrem continentes
nem fazem histórias das grandes navegações
BH, 0200502019; Publicado: BH, 01001102022.
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