segunda-feira, 7 de novembro de 2022

e o corvo cantou à minha janela nunca mais

e o corvo cantou à minha janela nunca mais
e o corvo cantou debaixo da sola da minha bota crás
e gritei ao corvo torto hodie
e me converti à poesia
e virei pastor poeta a pregar poemas
e a prometer mundos
e fundos a todos os vagabundos
e corri o mundo imundo mendigo cigano índio morador de rua bêmio bêbado empedrado
travado com o álcool dopado no que aparecia
e corria bestial
e gargalhava boçal na cara do banal do normal
do asseado metabolizado ostomizado
e lobotomizado que sonâmbulo
perdido que não pode ser acordado na corda
bamba pois morreria com a realidade
ou com a verdade que não libertaria da maldade
e da ruindade
e de perversidade não me deixaram na minha marquise
predileta
e jogaram gasolina
e atearam fogo ao meu vizinho
e que se não saísse dali rapidinho
seria o próximo
e nas igrejas pedem para se amar ao próximo
e como amar o próximo que
quer atirar fogo no próximo?
e não quero ser próximo
e nem estar próximo do próximo
e quero ser é eremita longe desta sociedade
maldita
e quero ser é ermitão longe deste sistema
sem coração
e quero ser é faquir longe de tudo que rir
da tristeza
e da desgraça
e da miséria
e o corvo gritou nunca mais
e  debaixo do
meu tacão crás
mas hodie saí dali
e fui ouvir o bee-tho-ven bem-te-vi

BH, 030502022; Publicado: BH, 0701102022.

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