terça-feira, 12 de julho de 2022

nunca estive preparado

nunca estive preparado
e nunca estou preparado
e nem nunca estarei preparado
para compôr uma obra-prima
ou uma obra de arte
ou uma bela arte da literatura
universal
e prestes a fechar a cancela
e a abotoar o paletó
e a bater as botas
e a comer capim pela raíz
e a esticar as canelas
a vir do aquém
e ir daqui para o além
e se a obra-prima não veio
e não vem
e nem virá é porque
não fiz jus do cuscuz
e no aqui jaz não terei paz
e na campa da rampa da
rama da sepultura nenhuma cruz
e só resta ao defunto na terra dos
pés juntos servir para os vermes
de presunto
e se passar por cremação
ser de cinzas assunto
a quem se interessar possa pelo
adjunto
e quando ser psicografado
por um mau elemento picareta
poesia que ditar não terá mais
serventia
e nem o poema valentia
ou a elegia nostalgia
ou a ode pagode
ou o soneto seleto
e se bobear nem esqueleto imperfeito
ou caveira com defeito
e o pó das cinzas dos restos
mortais será
levado pelas réstias das tempestades
dos temporais
e depositado nos altos piramidais
a cobrir as dunas eternais
ao canto do corvo maldito
dos altos dos pireneus
até nunca mais.

BH, 0140502021; Publicado: BH, 0120702022.

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