e dias pois vacas gados selvagens tomam de assalto de
saltos altos os asfaltos as hemorragias dos povos as
agonias da fome a letargia da pobreza a ansiedade do
rico por querer sempre mais para aplacar a gula
voraz de comer mais do que os sete pecados capitais
e de beber até desmandar mais do que os dez mandamentos
e não se importam com quem vive ao relento a sobreviver
de dia à noite debaixo de marquises ou sob viadutos
sem indutos para o de viver ou o de comer ou o de beber
quiça amar o próximo abastado como a si mesmo
e que não deseja a ninguém as bem aventuranças do
simbólico sermão da montanha que desconhece por
não proteger a criança abandonada no banco da praça
a mãe foi ali não voltou o pai também foi ali não voltou
e só a criança que ficou não consegue nem mais chorar
ainda mais que é um menino preto do gueto que
não merece nenhum soneto ou uma menina preta
quem diria que não merece nenhuma poesia dilema
também não são temas das infinidades de poemas
e nem as odes os acode ou os poetas das dimensões
os têm por inspirações ou boas aspirações mas
só loas de falsas intenções tais estas aqui reveladas
pois meninos pretos ou meninas pretas não importam
as interpretações da vida que levam só a gerada
incomodação pois incomodam onde chegam nunca
são bem-vindos(as) ou tudo se resolve num mata leão
ou numa sessão de tortura quando não termina na morte pura
e a sociedade agradece sem jamais perder a ternura
BH, 0110502023; Publicado: BH, 0290602023.
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