terça-feira, 12 de agosto de 2014

De repente não mais do que de repente; BH, 0280702014; Publicado: BH, 0120802014.

De repente não mais do que de repente
A mão move-se sozinha sobre o papel
Não segura a pena
Levita a incrustar
Um fantasma numa sombra
Um vulto numa penumbra
Um sonâmbulo a sonhar que não tem pesadelos
O corpo dolorido estende-se no estrado de madeira frágil
Parece o corpo ralado de Nosso Senhor Morto
A noite é fria o silêncio imperceptível aos ouvidos
A morte sonda da eternidade
Com a sua vara de pescar
As letras de medo escondem-se
As palavras sobressaltadas
Fogem dos pensamentos
Não há linguagem
Nem de Deus
Nem dos anjos
Nem dos homens
Quantos anos de vida ainda durará uma vida?
Quantas vidas acordarão amanhã ainda vidas?
Lerei o que esta mão a mover-se risca na escuridão?
As estrelas não cintilam neste céu de carvão
Outrora de anil
Coisa que nunca mais se viu
Mesmo os que andam com a cabeça virada para cima
Quem quererá saber
O que esta mão fantasma
Sobre este papel a levitar uma pena
Tem a dizer?
Nada
Ouve-se do além uma agonia
Nada
Muitas criança deixaram de sorrir
Nada
Ouve-se uma angústia
Nada
Muitas mães deixaram de ser mães
Nada
Esta mão
Nada

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