terça-feira, 26 de agosto de 2014

Desamoador; BH, 0190402001; Publicado: BH, 0260802014.

Desamoador,
Usa o instrumento de ação,
De que se servem os calafates para repuxar cavilhas,
Pregos
E retira os cravos da carne,
Que trago a encobrir ossos e nervos;
Retira os espinhos da coroa da desamizade
Que trago à cabeça;
Falta amizade aos pés,
Às mãos,
Às marcas e cicatrizes das feridas;
O sangue é fresco,
A chaga está aberta,
O madeiro é pesado;
Venho para desamigar,
Não sou mais santo,
Abro mão de ser o filho de Deus;
Vim desfazer a amizade,
Tirar pessoa e animal,
Coisas do seu ambiente;
Vim desambientar o meio,
Deixar doente e com moléstia;
Modéstia,
No meu reino te tentarei sem abnegação,
Vazio de desinteresse;
Vives com falta de ambição,
Olha a teus pés,
Será tudo teu,
Dispa-te da desambição;
E respira como o que não é amável,
Descortês com a humanidade,
Pois serás pregado numa cruz;
Desamável,
Irão passar por cima de ti
E alisar-te a fronte com moitas de espinhos;
Irão desamarrotar o teu corpo,
Desamolgar-te a alma
E desfazer o teu composto,
Igual a amassadura do pão,
Para que não levede depressa;
É só o levantar de ferro,
Mas não é para desamarrar,
Não é para desatar as correias das tuas mãos;
É para deslocar os teus ossos,
Desaferrar teus nervos
E desprender da amarra a tua vida;
Quem irá soltar o que está amarado em ti?
A humanidade não irá desamarrar-te e sim odiar-te,
Aborrecer o teu espírito como um qualquer;
Tu irás morrer e a raça humana deixar de te amar
E te desamar apesar de tudo:
Sou o ladrão que não quis estar contigo no teu paraíso,
Perdoa o mal amalgamado que não soubeste reparar;
Aquilo que estava para desamalgamar,
Misturaste mais ainda;
Confundiste com desamabilidade os mercadores no templo,
Olha para os de hoje;
Usam de descortesia contigo e indelicadeza
E não preocupam-se com a falta de amabilidade,
Que não os levarão ao teu encontro.

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