O copo vermelho vazio
Com a colher dentro
Olha-me de lá
A esperar o sorvete do menino
Que não vieram
Nem o sorvete
Nem o menino
O menino é branco de neve
Ficou a tossir no quarto escuro
Onde batalha com as paredes das trevas
Com as paredes de tijolos
Permanece a janela fechada
A porta encostada
Uma música toca num rádio na sala
O branco de neve torna a tossir seco em cima da cama
Penso em todos os poetas que nunca pensaram em mim
Em todas as poesias que nunca me procuraram
Sem saber
Sei que todos os poetas fizeram poemas para mim
Pensaram em mim
Todas as poesias pensaram em mim
Não consigo sorrir
Não me movo
Tudo que me move á a pena imóvel
Que desliza no papel
As letras pingam coaguladas
As palavras fixam-se como manchas de sangue velho
Em pouco tempo tudo se envelhece
Como se fosse algo inorgânico anti neurológico
Por um tempo esqueço do copo vermelho vazio
Com a colher dentro
Do sorvete esperado
Do menino branco de neve no seu esquecimento
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