segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Quando escrevo; BH, 0300702014; Publicado: BH, 040802014.

Quando escrevo
Falo o que não devo
Quando falo
Falo o que não escrevo
O que também não devo
Devo à muita gente
Quem não deve?
Só quem não tem crédito
As minhas letras não têm crédito
Minhas palavras não têm palavras
Voltam atrás antes de irem adiante
São falas falsas de falsos políticos
Atos falhos de médicos falhos
Faltos onde deveriam estar
Só sou o único que não posso passar por ilibado?
Também quero ter caráter sério
Sei fazer muito bem cara de homem
Gesto de gente
Atitude de nobre
O que manda é a imagem
O vulto aumentado na sombra
É o brilho que se agiganta no reflexo do espelho
A luz que ilumina cega ao mesmo tempo
Com a lâmpada apagada
Nos ferimos nas pedras onde machucamos os pés nos caminhos
Nos espinhos que furam as solas dos nossos pés
Posso ficar muito tempo aqui a fingir que sinto dor
Que tenho sentidos
Que tenho sentimentos
Pois nos movemos nos fingimentos
Se falarmos a verdade
Apanhamos ou batemos
Se falarmos a mentira
Batemos ou apanhamos
A ordem dos fatores não importa o produto
A inversão é a versão
A versão é a inversão

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