Escrevi infinitos dicionários sem
Palavras palavras sem letras letras
Sem livros livros sem páginas
Páginas sem fim escrevi frases
Sem efeito sentenças sem veredicto
Períodos sem parágrafos orações
Sem amém artigos indeterminados
Cláusulas sem contratos não encontrei
O que dizer sempre procurei uma
Mensagem pregar uma novidade
Num moderno que não seja descartável
Contei contos cantei cantos gregorianos
Cantei fados enfadonhos modinhas
Cantigas celebrei missas medievais em
Latim não perpetuei uma obra
Digna da humanidade nem uma
Obra-prima ou clássica reconhecida
Pelos alinhamentos dos planetas
Pelos universos criados em cada
Explosão de estrelas fundição de
Galáxias quis ter uma fina estampa
Que ensombrecesse a minha estupidez
Quis um estilo de elegância que
Disfarçasse a grosseria que me forma
Quis perder o teor rudimentar perder
O primitivismo de primata jeito de
Símio ficar mais à imagem do homem
Nobre ou do homem conquistador de
Correntes marinhas ou desvendador de
Misteriosos caminhos subterrâneos que
Ligam túmulos de reis de rainhas maias
Incas astecas de sacerdotes sacerdotisas
Seus altares de sacrifícios ou suas pedras
De imolar milenares inda manchadas
Pelos sangues das oferendas de quando
Não eram atiradas dos penhascos contra
Os rochedos onde eram despedaçadas
Escrevi então nestas lápides estas
Palavras para ver se retorno das
Cinzas vulcânicas numa encantação
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