terça-feira, 5 de novembro de 2019

E mesmo assim com toda a morte; RJ, 1977; Publicado: BH, 0501102019.

E mesmo assim com toda a morte
E com todo o corte
No sul ou no norte
A gente segue a levar
Essa danada morte
E mesmo assim com toda esta vida 
E com toda a ferida
E sem pedir guarida
Branca ou encardida
E a gente segue a levar
Esta insana vida
E mesmo assim com todo o soro
E com todo o esporro 
E com todo o mau agouro
Na marra e no estouro
A gente segue a levar
Sem pedir socorro
E mesmo assim com toda a dor
E com todo esse calor
E com todo o sofrer
E também o doer
E a gente segue a levar
Sem pensar no amor
E mesmo assim com tanto enterro
Com todo esse pranto
Com todo esse choro
E com tanto erro
A gente segue a levar
Esse desespero
E mesmo assim com essa fome
Com esse ódio selvagem
E com todo o nome da raiva
E com todo o entranhado mal
A gente segue a levar
Na carne viva esse sal
E mesmo com todo o dinheiro
Ou sem todo o dinheiro
E a engolir espinheiro
E a sentar em braseiro
A gente vai a seguir
A esse mórbido canteiro
E mesmo sem essa água
E mesmo sem esse leite
Ou mesmo sem esse café
Ou sem essa mulher
A gente vai a levar
Um dia com fé tem que dar pé.

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