quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Paro em frente ao espelho; RJ, 1977; Publicado: BH, 02001102019.

Paro em frente ao espelho
E olho para mim
E penso que preciso mudar a minha imagem
E o meu penteado
E a minha barba
E as posições faciais
E todo dia é a mesma coisa
E a mesma imagem
E a mesma cara
E o mesmo jeito
E tenho que mudar de face
O mundo já enjoou desta minha face velha
Velha e carrancuda
E estou a ficar careca
E o meu cabelo está a cair
E a minha espinha está a curvar-se
E a minha barriga está a crescer-se
E já não tenho mais aqueles músculos de outrora
E já não tenho mais aquela elegância natural
Que só eu tinha
E estou a sumir
E estou a perder
E estou a desaparecer
E estou a morrer
Paro em frente a espelho 
E olho para mim
E vejo os meus reflexos
E vejo os meus complexos
E fico a refletir
E entre as minhas derrotas
Fui eu mesmo
E o meu maior problema
Sou eu mesmo
E não vale a pena
Ficar a refletir em frente ao espelho
Alma tão pequena.

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