quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Reencontro; RJ, 1977; Publicado: BH, 02001102019.

Nada mudou
Tudo passou
E passei
E passaste
Nada passou
Tudo mudou
E mudei
E mudaste
Estás mais magra
Creio que não é regime
É fome mesmo
E estou mais gordo
Creio que não é regime
É cerveja mesmo
Lembra daquele dia
Debaixo da marquise
Porque a chuva caía
E nos molhava
Não podíamos ficar na chuva
Fomos para a marquise
Agarrados um no outro
Ias para o colégio
Te fiz matar aulas
E ficamos a curtir
Altos beijos em bocas
Altas carícias
Altas palavras baixas e profundas
Nos pés dos ouvidos
Mordidinhas nos pescoços
Nos queixos e nas orelhas
E nada acabou
E tudo ficou
E estou aqui 
E estás aí
E nada ficou
E tudo acabou
E estou mais velho
E estás mais velha
Vamos fazer amor
Em qualquer marquise
Em qualquer muro
Com beijos e carícias
E mordidinhas e palavrinhas
Nos pés dos ouvidos
Com gemidinhos e orgasmos
Orgasmos profanos
Tirados de dentro da alma
E nem te lembras mais
E nem sabes mais
Do que sou capaz
Não te despeças de mim
Antes de provar
O novo sabor
De minha língua
Estou a usar dentaduras
E usas peruca
E cílios e pestanas postiços
 E estás mais barriguda
E de seios caídos
E estou a ficar careca
E minha barriga está a crescer também
E as rugas a aparecer
E as olheiras acentuadas
E os dentes falsos amarelados
E a visão está a falhar
E o coração enfraquecido
E a massa cinzenta
Já não funciona mais 
E não quero parar agora
E não quero passar agora
E não quero morrer agora
Antes de te conhecer novamente
E busques nos meus olhos embaçados
E busques nos meus olhos esbugalhados
Alguma coisa que ainda está a faltar em tua composição
 E tua transformação
E tua metamorfose
Vai me fazer vivo
Vai me fazer sentir vivo
E tudo passou
E não me interessa
E não te interessa
É tempo de começar
E é tempo de renovar
As nossas almas
E nossos espíritos
Vamos agora neste reencontro.

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