Um beijo jogado fora
Numa noite de sexta-feira
De chuva de verão
Pancadas de coração
Eram ouvidas na esquina
Da rua escura e sem saída
Corpos remoídos e massacrados
Encostados um ao outro
A deixar escapar
Gemidos de desespero
Pela rua a fora
Vararam noite a dentro
Ecos loucos e arranhões
De unhas a se encontrar
Dos olhos escapavam faíscas
De desejo e de ardor
A garganta dilacerada
Pela punhalada do beijo
Pela espada lacerante
Deixava às mostras as marcas
Dum verdadeiro amor
O peito arfou cansado
A cabeça pendeu para o ombro
Mais um beijo escorregou
E se perdeu com os pingos da chuva
E ficou o vulto de lado
Dum corpo que estava a se espremer
Um pensamento ainda recordava
A cena de segundos atrás
Um sorriso de alívio
Raiou nos lábios beijados
As carnes já machucadas
Não sentiam mais a dor
As marcas da recordação
Vão ficar gravadas no coração
Daquela noite de amor
Pé ante pé se afastou
A perder-se na escuridão
Não disse uma palavra
Apenas mais um sorriso
Um gesto de puro carinho
E um olhar de gratidão
Cheia de essência da vida
De fragrância e de frescor
Caminhou como a brisa
E se sumiu no amanhecer
E nem o rosto daquele beijo
De perto deu para ver.
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