segunda-feira, 5 de setembro de 2022

desfraldai as velas das embarcações dos argonautas

desfraldai as velas das embarcações dos argonautas
e das naus das grandes navegações
e das caravelas
e das catarinetas
e apreendei dos porões dos navios negreiros
as assombrações
e as almas dos que vão aos pelourinhos
e livrai do relho os corpos torturados com
adornos de ferros de elos de correntes
e de máscaras
e argolas
e grilhões
e não escondeis as vergonhas nos sótãos dos
vossos corações pois antes de vós por aqui
passaram outros navegadores fenícios 
por correntes submarinas doutros caminhos
e aqui não trouxeram
e nem deixaram cativos escravos
e livrai os espíritos lançados ao mar por rebeldia
e insubmissão
e ousadia
e audácia 
e coragem pela liberdade
e enxugai as lágrimas dos que sozinhos nas selvas continentais
não sobreviveram ao abandono
e santificai esse povo negro caído do céu
e canonizai essas mulheres vítimas de
senhores feudais
ou capitães do mato
ou capatazes selvagens aproveitadores
e enchei de glórias 
e alvíssaras os vasos sagrados dos anais da eternidade 

BH, 02601002021; Publicado: BH, 050902022.

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