sexta-feira, 23 de setembro de 2022

E quem diria que viveria sessenta e cinco anos

E quem diria que viveria sessenta e cinco anos
E será que vivi mesmo todos esses sessenta e Cinco anos?
E nem sei mesmo se vivi e nem 
Posso confessar que vivi e houve um poeta 
Que disse confesso que vivi e houve um
Bêbado que disse confesso que bebi e penso 
Que estou mais é do lado desse bêbado 
Inveterado e confesso que também bebi e na 
Minha ignorância bebi até álcool com caldo 
De cana e confesso estupidamente e bebi rabo
De galo que era a mistura de todas as bebidas
Alcoólicas que tinham numa venda e bebi 
Cachaça com tira-gosto de banana que meu tio
Manoelzinho me dava e bebi tanto uma vez na 
Casa dum português que tinha uma coleção de
Garrafas com raízes de todos os lugares que nem
Sei como sobrevivi para confessar e olha que fui
Lá para conhecer e namorar a filha e me perdi 
Nessas beberagens e sexagenário e mais alguns
Cinco anos e ainda não aprendi e em vagabundagem
E em vadiagem ainda bebo todas e nem preciso 
Mais confessar tantas malandragens e outras
Tantas molecagens e também pudera ao ter por
Referências todos os velhos safados e tarados e 
Sacanas e canalhas do mundo e não poderia nunca
Ser um velho de boa cepa de asilo e de albergue
E de igreja e de capela e estou sempre escorregadio 
Às ruelas de fundos do sub mundo imundo e aos
Muros escuros dos becos onde sempre tem um 
Cospe grosso ou um copo sujo ou um corpo de
Carne moída e estou ali encosto num encosto e 
Só a madrugada para me arrastar de volta ao 
Lar a falar e a cantar sozinho pelo caminho ou
A chorar de mansinho para não acordar as 
Mariposas pousadas nas pétalas das flores escarradas.

BH, 02001102020; Publicado: BH, 0230902022.

Nenhum comentário:

Postar um comentário