domingo, 5 de março de 2023

a pena capenga coxa saci-pererê

a pena capenga coxa saci-pererê
equilibra-se nas paralelas
mas perde a estabilidade
e cai no chão de papel de arroz
quando tentáculos dáctilos a colocam
novamente em movimento pois é calmaria
e não há vento
nem música
e não se pode dançar sem vendaval
e não se pode dançar sem musical
e a pena não deixa vestígios na
circunferência
nem resquícios na reta
ou ponto
ou vírgula
e o polvo quer é poema
e a estrangula
e o polvo quer é poesia
e a sufoca
e a pena então vomita bílis de fel
e a pena então regurgita suco gástrico
e inorgânica sem sensações
e inanimada sem emoções é morta no
pelourinho aos retalhos
e a pele foge da carne viva
e o sangue chega ao final
sem matar a sede do soneto
e não há mais vida
e não há mais tempo
e o polvo escapou
por um orifício do universo
e ganhou o oceano espacial
e ganhou o mar sideral
e alienígena volta à nave mãe
da placenta do planeta água
que ainda não nasceu

BH, 0170202023; Publicado: BH, 050302023.

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