fica sentado no velho sofá doado
com um bolo de papel numa mão
uma antiga caneta esferográfica noutra
lasca letra
lasca palavra
rabisca
rabisca
garrancho
mais garranchos
uns trens sem trilhos
uns trecos nos cacarecos
que
nem sei o que são
que talvez ninguém nunca vai entender
de cá a rir da cara do velho bobo
fala que vai ganhar
o prêmio nobel de literatura
pirou de vez pois quer por que quer
ganhar o prêmio nobel de literatura
o doido fala que psicografa obras-primas
quando bebe umas outras a mais então
aí é
que ninguém o suporta
ou é um deus nos acuda de tanta falação
um fluxo sem nexo plexo sexo
depois apaga a roncar
de boca aberta a babar
vou lá devagar
pé ante pé para não o acordar
tento decifrar o que o velho escreve
não consigo nem ler
muito menos interpretar
largo tudo para lá
mas a vontade é de jogar fora
o que mãe chama de porcarias do teu pai
ou o que irmã irmão desprezam
mas se
some uma porra duma folha amarrotada dessas
encardida daquelas que pensa que é papel
bíblia
enche de tudo que não presta
espalha pelo barracão
cria barraco se um barranco desaparece
grita que obras das mãos do homem são sagradas
inspiradas por deus
cada um no seu canto a rir do doido
que se
diz literato
reza a um bruxo do cosme velho
ora a um tal de mago de portugal
clama a um pseudônimo dum pessoa
se gaba a um gabo não sei donde
mas
que parecem aparições do sobrenatural
BH, 0160202023; Publicado: BH, 030302023.
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