A correnteza arrasta-me como se levasse uma flor seca
Uma flor morta a correnteza de roldão de borbulhão
Em borbulhão leva-me pelas enxurradas da vida
Como sacolas de lixo cachorro morto de lado para
Outro sempre para baixo sou jogado a rolar ladeira
Abaixo a correnteza sem dó faz de mim graveto sou o
Que fazia na correnteza barquinhos de papel no meio
De entulhos restos sobras lodo lama seixos água
Barrenta uma hora venho à tona sem demora
Afundo misturado com detritos também trazidos pelo
Furor da correnteza esperava a chuva só no nascer do
Sol mas veio antes veio na noite continuou na
Madrugada pegou-me embalde ladeira corredeira
Enxurrada ligeira com jeito de cachoeira vi muitas
Outras flores mortas serem arrastadas juntas com juncos
Ramos ramas raízes troncos pedaços de pau a
Correnteza não ouve suspiros soluços sussurros não
Ouve choros clamores prantos lamentações a
Correnteza não ausculta corações o meu que é
Coração de mãe é arrastado como se fosse um objeto
Descartado mesmo que queira privilégio não há
Privilégio tudo é lixo o luxo é lixo todos são lixos a
Correnteza não para nem no fim da chuva leva ainda
Algum tempo para se desfazer da impetuosidade leva
Algum tempo para recompor hidratar serenar a
Adrenalina restabelecer a libido recompor o
Testosterona a correnteza é locomotiva desembestada
Morro abaixo sem freio sem condutor acorrentado
Arrasta um corpo advinha quem é o coitado?
Que correnteza levou
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