quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Borracha Franca; RJ, 1977; Publicado: BH, 01601002019.

Borracha Franca
E conheci várias pessoas
Na Borracha Franca
Onde o meu pai
Tinha uma venda
E essas pessoas
Que conheci ali
Muitas marcaram 
Em minha vida
Era o João Pelé
O Leleu e o Lulu
E o irmão do Lulu
Que não tinha nome
E um baiano vulgo
Baiano Cachorro Cadela
Que só vivia arrudiado de vira-latas
E quase foi assassinado a facadas
Dentro da venda
Se não fosse o meu pai
E era o Júlio Mamão
E uma mulherzinha
Que tinha o apelido 
De Ele Merece
Era uma bebadazinha
Muito simpática
Que se tornava agressiva
Quando alguém mencionava 
Ele Merece
E eram a Maria Gaguinha
E a Maria Cachaça
O Lauro que morreu inchado
O João Boi Manso
O estranho Barbeiro
E o Bezim Alfaiate
Muita gente 
Ali da beira da linha
Onde passava a Maria Fumaça
Impressionou-me
E tinham ainda
O Neguin Friaça
E o Formiga
Que dizia sempre
Eu é home
E o Chico e a Laura
Prostituta que conheci
Em toda a minha infância
Com a mesma cara
E o Cearense Laranjeiro
Que me vendia fiado
E o Para-Bala
O mais feroz de todos
E Maria Pau-Rolou
E Maria Relógio
Que tinha numa perna
Uma grande pereba
E tinham ainda o Bota-Ovo
E o Papa-Mel
E muita gente tinha
E muitas pessoas
E todas me marcaram
Na Borracha Franca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário