domingo, 20 de outubro de 2019

Cachaceira; RJ, 1977; Publicado: BH, 02001002019.

Alguém chegou e bateu à porta do quarto do barraco
Senti logo quem era pelos passos cambaleantes
E pelos esbarrões nos móveis e arrastões dos pés
Senti logo como estavas mais bêbada do que nunca
E é uma pouca vergonha
Mulher casada e do lar
Mãe de família e de filhos
Andar assim embriagada pelas ruas
E pela noite igual à uma vagabunda
Tu tens marido e tens casa e tens lar
Não sei porque tens que andar por aí
De boteco em boteco a beber a valer
Igual à uma prostituta a encher a cara
E só a beber e a chegar à casa 
Tarde da noite e toda suja e fedorenta
E teve uma noite aí que chegaste toda urinada
E pensei até que vieste dum curral
Vê se tu te acertas
Cachaça não é meio de vida não
Cachaça não enche a barriga
Cachaça só enche a cara
E já te avisei para mais duma vez
Vai tomar uma banho e tomar um café forte
Vê se tiras também esse bafo de onça
Pois não vou beijar uma boca com esse cheiro de bueiro
Escova pelo menos os dentes da frente
E na próxima vez
Que chegares em casa 
De porre desse jeito
Nunca mais vou fazer amor contigo
Toma jeito e vê se para de beber.

Nenhum comentário:

Postar um comentário