sexta-feira, 13 de maio de 2022

Domingo de carnaval que mais parece dia de finados.

Domingo de carnaval que mais parece dia de finados
E no momento só ouço latidos distantes de cachorros
E um silêncio sepulcral quando param de latir de vez em quando
E nenhuma música de réquiem para esse carnaval
E nenhum samba qualquer samba enredo ou
marchinha
Ou frevo ou seja lá ou cá o que for nesse féretro
E tudo é tão silencioso que passou uma borboleta
A voar e ouvir o bater da bateria das asas e
Consigo ouvir os uivos da caneta na face branca
Do papel mas queria mesmo era ouvir uma
Canção que acordasse a dormência do meu coração 
Com as badaladas dum surdo ou repinicar dum sino
Ou o troar dumas trombetas e em pleno carnaval
Com sono sinto um clima de cemitério e só
Levantei-me agora feito um fantasma a sair
Dum ataúde e fui até à sala e olhei o filho do
Meio que ainda estava deitado no sofá e dei
Uma volta a verificar se ainda havia algum vivo
No mundo e voltei à mesa e ao bloco de anotações
E a única vida da qual certifiquei foi a vida da caneta
Que levou sopro nas narinas e saiu a registrar
Nas paredes das catacumbas as definições das
Estrias dos ossos fósseis e não sabia de que
Sorria a caveira do esqueleto mais fossilizado
De detrás do muro da eternidade e da muralha
Percebi que era um riso de zombaria dum fauno
Com sacarmos de cínicas crônicas.

BH, 0230202020; Publicado: BH, 0130502022.

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