quinta-feira, 12 de maio de 2022

não a morte é morta a morte não é viva não

não a morte é morta a morte não é viva não
nem vivo é o morto que a morte vem buscar
quando o morto se faz de vivo é para ver se
engana a morte perdure um pouco mais a
perambular aqui pelo limbo a ficar verde de
bolor tudo que um morto que a morte quer levar
faz é coisa de morto por mais que o morto
mofado se disfarce se maqueie se asseie nada
no cadáver adquire aspecto de vivo apela à mão
da dissimulação ou da falsidade do fingimento
constante que é o fator predileto do morto aos
olhos dos semelhantes cotidianamente só a se
fingir de vivo às vezes consegue iludir até à
própria morte morta quando o quer levar por
companhia um morto é antes de mais nada um
louco que fala com paredes paredões com
pedras pedreiras com rochas rochedos morros
montanhas rochosas ordilheiras nevadas
chapadas de mármores outros abismos de
fendas abissais donde se ecoam as letras as
palavras eternais deixai que os mortos enterrem
seus próprios mortos deixai que os loucos
curem suas próprias loucuras pegou aqueles
espíritos que moviam os mortos os loucos pôs
numa vara que se lançou nos precipícios deixou
o dono da vara com a vara na mão com o
prejuízo os mortos seguiram vivos no meio dos
mortos? um morto nunca aprendeu a ser vivo
solidário a outro morto vêm daí a fome a sede a
pobreza a miséria a desgraça sem a misericórdia desta vida

BH, 0130202020; Publicado: BH, 0120502022.

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