quarta-feira, 7 de agosto de 2013

RODRIGO GARCIA LOPES, Três poemas.

Anatomia da Rima

Não existem rimas pobres.
Todo som, sim, é artifício
Que o tempo atrita e consome.
Vento metafísico, isto
Que nos cobre, palavra
Soprando de Provença
Ou greta na rocha, resma
De avenca que avança —
Repetição na diferença.
Tudo rima com alguma
Coisa, contanto não seja rara
Naja desnuda penumbra
Ou pegue de raspão, toante,
As palavras que instantes antes,
Eram caligrafia da fala,
Espécie de fada, cabala.

Alba

É muito cedo para ser manhã.
Quieto demais para ser dia,
É uma sílaba aflita quase dita,
Invisível acorde em lá,
Presságio de sombra ali. Há
Uns sinos tocando-se de leve
Na mente ainda sem neve.
Tudo ficou para amanhã:
A morte, a história, a hora h.
É bom demais para ser verdade.
E é quase tarde para ser agora.

O livro de cabeceira

Você viveu tanto
Pra nada daquilo acontecer
Você apenas esperou
O tempo da sua desgraça
Que era este
Rente a seus pés
Você amou tanto
Mas foi incapaz de deixar
Na pele da sua amada
Uma linha sequer.

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