quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Valdimir Diniz, Às vezes.


Às vezes acham que estou louco porque ouço todos os ruídos
Do universo
Reverberações, cintilações, ressonâncias, choques térmicos,
Explosões solares
Noite e dia
Guerra e paz
Vida e morte
Às vezes acham que estou louco
Às vezes acham que estou louco porque ouço todos os ruídos
Do universo
Nhaca, nheque, nhiqui, nhoco, nhucu
Às vezes acham que estou louco
Fico rouco de tanto repetir a mesma coisa:
Tá tá tá, té té té, ti ti ti, tó tó tó, tu tu tu
O apelo à rima me alucina e eu incito: vão todos tomar no cu
Ou não faz sentido?
Às vezes acham que estou louco porque ouço ruídos em meu quarto
Baratas, goteiras, pernilongos, a madeira do chão estalando
O meu coração batendo dentro do quarto
Eu me pergunto o que virá em seguida
Nada, ninguém, nenhum sinal dentro do quarto
Mas porque este silêncio se ouço todos os ruídos do universo?
Mísseis, martírios, pobreza, suicídios, fome, sortilégios
Totalitarismo, couvert, dólar e turismo
Meu Deus, nem sei mais o que sai de minha boca, do frio que vem,
Aonde guardei minha touca?
Mamãe, papai, me dêem um bombom e nada mais
Para vocês não se chatearem, agradeço por ter nascido
Ainda não é hoje que vou estourar um ouvido
Mas, digam-me, por favor, o que esperavam de mim?
Princípio de que, meio de que, aonde chegar, em que fim?
Às vezes acham que estou louco porque ouço todos os ruídos
Do universo
Às vezes acham que estou louco porque insisto nesse verso
Uso e abuso dele, como se abusasse de mim
Eu o repito e ele se multiplica
Explode e repica, explode e repica, explode e repica
Dele mesmo acabo me esquecendo mas um pouco fica
Nessas horas nem sempre sei aonde estou, quem sou, o que faço
Mas me deixem assim, eu lhes peço
Que não escutem o meu verso – tudo bem – mas me deixem assim – a sós,
Apenas eu e o universo

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