sábado, 10 de agosto de 2013

Rainer Maria Rilke, O homem que contempla.

Vejo que as tempestades vêm aí 
Pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos, 
Batem nas minhas janelas assustadas 
E ouço as distâncias dizerem coisas 
Que não sei suportar sem um amigo, 
Que não posso amar sem uma irmã. 

E a tempestade rodopia, e transforma tudo, 
Atravessa a floresta e o tempo 
E tudo parece sem idade: 
A paisagem, como um verso do saltério, 
É pujança, ardor, eternidade. 

Que pequeno é aquilo contra que lutamos, 
Como é imenso, o que contra nós luta; 
Se nos deixássemos, como fazem as coisas, 
Assaltar assim pela grande tempestade, — 
Chegaríamos longe e seríamos anónimos. 

Triunfamos sobre o que é Pequeno 
E o próprio êxito torna-nos pequenos. 
Nem o Eterno nem o Extraordinário 
Serão derrotados por nós. 
Este é o anjo que aparecia 
Aos lutadores do Antigo Testamento: 
Quando os nervos dos seus adversários 
Na luta ficavam tensos e como metal, 
Sentia-os ele debaixo dos seus dedos 
Como cordas tocando profundas melodias. 

Aquele que venceu este anjo 
Que tantas vezes renunciou à luta. 
Esse caminha erecto,  justificado, 
E sai grande daquela dura mão 
Que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta. 
Os triunfos já não o tentam. 
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido 
Por algo cada vez maior. 

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