segunda-feira, 28 de março de 2022

A poesia é como as nuvens.

A poesia é como as nuvens 
Pousadas nuns fios e quando se torna
A olhar já mudaram e agora são poemas
A voar na vastidão do céu sem nuvens
No azul do firmamento e bebo cervejas
Com ovos crus nesse momento e é
Dia de domingo e estou sozinho 
À mesa da cozinha e os pombos crocitam
Ao longe e bato com alguma coisa
Na calha e os sinto bater asas em revoada
E agora só o silêncio e o vento juliano
Nenhuma música qualquer nem
Nas distâncias e aonde andam as
Músicas e chega-me a triste notícia 
Da morte do nosso maior músico 
E é por isso que este domingo está 
Assim meio ressasabiado e oiço o bater
Duma porta ou de carro ou de casa
Ou portão ou janela e alguma coisa 
A fazer ruído para lembrar que o 
Domingo está vivo e além dumas 
Vozes além uns tossidos ressequidos se
Fazem ouvir dum quarto qualquer e
Tudo gira a voar como a poesia e 
Tudo paira no ar como um poema 
E só não é poeta quem não quer 
Mesmo que seja um poeta menor e menos 
E só não bebe cervejas com ovos crus 
Quem está doente e o vento 
Brincalhão levanta as folhas de 
Papel e faz questão de me chamar 
A atenção e cães latem e param
E voltam a latir e vestígios de 
João Gilberto me tornam vir à mente 
E penso que muitos choram neste
Momento e chega a saudade que 
Será agora sempre eterna. 

BH, 070702019; Publicado: BH,  0280302022.

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