A poesia é como as nuvens
Pousadas nuns fios e quando se torna
A olhar já mudaram e agora são poemas
A voar na vastidão do céu sem nuvens
No azul do firmamento e bebo cervejas
Com ovos crus nesse momento e é
Dia de domingo e estou sozinho
À mesa da cozinha e os pombos crocitam
Ao longe e bato com alguma coisa
Na calha e os sinto bater asas em revoada
E agora só o silêncio e o vento juliano
Nenhuma música qualquer nem
Nas distâncias e aonde andam as
Músicas e chega-me a triste notícia
Da morte do nosso maior músico
E é por isso que este domingo está
Assim meio ressasabiado e oiço o bater
Duma porta ou de carro ou de casa
Ou portão ou janela e alguma coisa
A fazer ruído para lembrar que o
Domingo está vivo e além dumas
Vozes além uns tossidos ressequidos se
Fazem ouvir dum quarto qualquer e
Tudo gira a voar como a poesia e
Tudo paira no ar como um poema
E só não é poeta quem não quer
Mesmo que seja um poeta menor e menos
E só não bebe cervejas com ovos crus
Quem está doente e o vento
Brincalhão levanta as folhas de
Papel e faz questão de me chamar
A atenção e cães latem e param
E voltam a latir e vestígios de
João Gilberto me tornam vir à mente
E penso que muitos choram neste
Momento e chega a saudade que
Será agora sempre eterna.
BH, 070702019; Publicado: BH, 0280302022.
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