domingo, 5 de junho de 2022

Tropecei num bloco de mármore maciço do mais nobre e raro de Carrara.

Tropecei num bloco de mármore maciço do mais nobre e raro de Carrara
Que me lançou um dilema massivo esculpa em mim o homem novo que
Sairei por aí a falar bem de ti como um perfeito Davi numa praça Signoria 
Pois o homem moderno de barro de barrela igual a ti tem vencimento e
Mármore igual a min não encontrarás em nenhuma outra montanha
Rochosa e então me liberta desse bloco maciço pois quero ser nobre
Tanto quanto esse mármore superior esse mármore supremo onde me
Moldarás para a posteridade e não sou Michelangelo malgrado meu e sem essa estatura estátua não sei fazer
E de dom tão elevado a talhar nessa rocha viva o homem universal e
Logo um homem morto que sou se ecce homo ou o homo pinealens
Meu talhador é de amador e de moldador de argila mole e de traçador de
Linhas indecifráveis mas és o único que passou por aqui depois do
Simoni e faças de mim um boneco legítimo de pedra rara e grita bem
Alto aos brados aos universos Parlá quem sabe que não nascerei daí
Mas o boneco será imperfeito e não ficarás satisfeito e entrarás no
Círculo do circuito vicioso do lugar comum onde ninguém se aceita
Do jeito que é e só fica a pedir aos bisturis uma perfeição aqui e 
Outra ali e vão todos se transformar em monstros e contenta-te
Em ser só esse bloco de mármore maciço do mais nobre e raro de Carrara.

BH, 0140402020; Publicado: BH, 050602022.

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