quinta-feira, 2 de junho de 2022

E a quem apelar quando a poesia não me quer mais?

E a quem apelar quando a poesia não me quer mais?
E a quem recorrer quando o poema corre de mim à minha frente?
E à velocidade da luz e a minha inspiração bateu a porta do meu coração
E saiu pela contra-mão a atropelar a imaginação e a matar
A razão como uma casa que não tem amor e
Cheia de corpos que não praticam o amor
Num mundo formado de montanhas rochosas geladas
E de icebergs abissais e o dia é nublado de sol chumbado
E a solidão é um dejeto que se desprendeu duma barragem
Que se rompeu devido ao esgotamento e
Cobriu tudo que encontrou pela frente e
Nem as almas escaparam ou os espíritos fugiram
E os livros foram soterrados vivos juntos com os mortos
Que detestam livros e todo mundo na mesma vala comum
E a minha vida nunca mais será a mesma e o
Universo nunca mais será o mesmo e o dia
Que finda hoje não será o mesmo dia que se
Findará amanhã e o amanhã não terá manhã
E será a perda da manhã que se adquire com manha do mar
E o mar não será o mesmo mar com os pingos das minhas lágrimas
E as ondas que quebram nas praias todos os dias de manhã
Também não serão as mesmas a jogarem as espumas brancas
Contra a pureza infinita do céu azul.

BH, 0130402020; Publicado: BH, 020602022.

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