quinta-feira, 23 de junho de 2022

Estaquei no meio do caminho do destino como uma pedra.

Estaquei no meio do caminho do destino como uma pedra
Ou como um burro que empaca numa estrada
Ou o boi que se recusa a marchar ao matadouro
Que até as minhas pegadas se petrificaram 
Como um tesouro fóssil
E não mais arredei a rocha
se transformou em diamante
E empacado ali com o universo nas costas
E as dimensões no cangote
E o infinito na cacunda
E a eternidade na corcova
E corcovado ancião vi o corvo a me devorar o
Fígado de naco em naco
E de bocado em bocado
E acorrentado ao pelourinho sou mais um prisioneiro
Desta caverna filosófica
E mais um protagonista dessa cadeia de
Cordilheiras de personagens coadjuvantes da
História universal
E quando acordei do sonambulismo o
Meu esqueleto continuou a dormir
E a minha caveira a sorrir pois nunca vi uma
Caveira triste mesmo quando era guardião do
Ossuário da cidadezinha onde nasci
E conheço todos os ossos do manequim do mais profano
Ao mais sacro
E enchi o saco com os ossos em cacos
E faço tubos tubulares
E flautas doces
E clarinetas com os inteiriços
E nobres arfins
E do mais puro marfim
E a morte viu que era pouca
E que era pequena diante de mim
E a minha sepultura foram todos os montes montanhas
E picos cordilheiras
E nunca monumento de mausoléu
E restos de planetas irreconhecíveis
E rochosos perdidos pelos universos estranhos
E milênios depois quando abriram a tampa do sarcófago
Na campa do meu sepulcro sepultura
Só encontraram esta folha de lápide a lápis.

BH, 0601102020; Publicado: BH, 0230602022.

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