quinta-feira, 9 de junho de 2022

só me faltaram as ideias como sempre vivi

só me faltaram as ideias como sempre vivi
em todo o meu ideal ideário só as ideias me faltaram
empobreci o meu vocabulário procurei o dicionário
que perdi há muito tempo as palavras que
vieram com o vento são as mesmas que lancei
na vã esperança duma filosofia nova dum novo pensamento
que me sustentassem para que pudesse sustentar
atlas o mundo livre vasculhei enciclopédias mas ciclope
não percebi polifemo que todas as ideias tinham sido testadas
em todas as letras línguas todos os ideais tinham sido elevados
em todos os pensamentos pensados então olhei para minhas mãos
vazias nada para oferecer ao dia o dia já existia há muitas horas
ainda lutava para me colocar no espaço certo
debatia-me em agonia no espelho apertado pelo nó gordio
afogava-me em ansiedade de enforcado que ardia
em angústia insistia em teimosia de não poder desistir da poesia
que na ideia morria do poema que no ideal sucumbia
mesmo a forçar a barra as musas não salvavam o perdido dia
até o tempo findava tristemente só o nada restava
ao lado do poeta abandonado à deriva do próprio destino
de homem que se fez menino se perdeu girino
na enseada do brejo abocanhado pela noite

BH, 0160702020; Publicado: BH, 090602022.

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