I
ensina uma linha de vértebras
sobre o devaneio tenso dobra-se a bailarina torta
há uma luz que campeia pelos seus metros
a bailarina vive como sugestão cadente
enquanto as cabriolas
lhe terrenam
contida no costume de virgem
os drapeados lhe chumbam o serviço
no embalo decoroso da suíte
um corpo
impermeável ao sol
põe-se em festa
deita sua alegria gris
e seu delírio branco
artefato do poeta
II
o chão é
ente de seu eixo exercido
onde abanca suas conjunturas
e salta os barrotes de algum desvão
imaginário
do ventre da vida
calcada ali
sopro que a ribalta emoldura
estampa da vertigem
roda no tempo
que é seu sólido mar
III
figurativa
– só –
pelo caudal do lance da noite
ela trepida
(emparelhada pelo vazio)
como pudesse reter
relance-ar
desterrada
sem elemento ou nome civil
investida
no verbo de sua silhueta
no gabarito de sua artesania
IV
tarda numa delícia cheia de dor e método
a bailarina desafia as raias
até os limites de sua matéria
além dos olhos que veem o estar e a graça
da tolice que diz belo à queima-roupa
a bailarina que é urdidura
deriva margem contrária
à marcha pressurosa
do fim
V
sem arte
a bailarina é feia
quando o pano de boca desce
ela é
desfigurada
e o seu destino
branco
branco
branco
força o anteparo da fantasia
cede o traquejo
e a tesura
e enxágua a figura
que cai
culpada
aos pés
do chão.
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