Agora é tarde
O leite está derramado
A luz apagada
Quando era tempo de esperança
Fartura
Bonança
O futuro ficou esquecido
O passado não serviu de lembrança
O presente escorreu entre os dedos
Aí alguém gritou no mar
Agora é tarde
O navio levantou âncora
Zarpou
Embrenhou a quilha nas ondas
Ouviu-se um suspiro vindo lá do fundo
Sentiu-se a insegurança do gás carbônico que foi expelido
O oxigênio que foi inalado
Não apagou a impressão
Que cada mal estar causa
Quando as coisas não correm bem
Pressão alta
Veias entupidas
Tonturas
Suores
Calafrios
Sim
Agora é tarde
As dores estão aí
Orgânicas inorgânicas
Soluços abafados de vozes que sussurram
Murmúrios lamentosos de desesperança
Quem mandar não se preparar para o tempo do porvir?
Antes do tempo do porvir
São sentidos remorsos capitulações
Não há bastião para se apoiar
As badaladas do relógio são ouvidas
Como as últimas badaladas do coração
Ouviu-se um retinir de sinos bem distante
A manhã pode ser que seja melhor
Ressoam
Mas o amanhã é hoje
Ecoam o macabro agora é tarde
Baixou-se uma noite
Não há na memória
A lembrança de noite tão memorável
Não há registro dela na recordação
Foi uma noite que não trouxe sonhos
Notou-se
Nem pesadelos
Que noite estranha
Diferente
As entranhas dela não pariram madrugada
Uma eternidade depois
Quando enfim
Conheceu-se o dia
Descobriu-se numa parede um rabisco de negrito
Letras de palavras indecifráveis
Mas as pedras das paredes reverberavam
Agora é tarde
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