quarta-feira, 25 de março de 2020

"Linhas Internas", O curioso; Publicado: BH, 0250302020.

Quando era menino
Era um pouco curioso
E certa vez quando fui cortar cabelo
Com o senhor Fuxico
O  nosso barbeiro predileto
Aconteceu algo que até hoje
Não me sai da memória
Ao chegar na barbearia
Sentei-me na cadeira
E o senhor Fuxico
Começou a cortar o meu cabelo
Mas de vez em quando
Chegava perto do caixote de lixo
E parecia dar uma olhada
Para dentro do caixote
Toda hora ele parava
Ia lá e olhava para o caixote
E eu não tinha observado
O que ele estava a fazer
E ficava a imaginar
O que que seu Fuxico
Estava a olhar no caixote
E fiquei encabulado com aquilo
O que o barbeiro escondia ali
E a cada minuto que passava
Minha curiosidade aumentava
E tinha que saber o que o barbeiro
Estava a esconder de mim
E quando acabou o corte
Mais do que depressa
Fui lá e olhei para ver
O que que toda hora seu Fuxico ia olhar
E dentro do caixote
Só havia restos de cabelos cortados
E ao não ver nada de mais
Enfiei a mão dentro do lixo
A pensar em encontrar
Alguma novidade
E revirei o lixo para lá e para cá
E sentir a minha mão molhar
Algo frio e pegajoso 
E não achei nada 
E vi que era vítima 
De minha curiosidade
Retirei a mão imediatamente
E ao olhar para a minha mão
Que decepção
Estava toda suja e era de cuspe
E de cabelos sujos e imundos
Do lixo que tinham todos 
Agarrados em meus dedos
Levantei-me decepcionado
Mortificadamente limpei as mãos
Nas beiras do caixote
Paguei ao seu Fuxico
E fui-me embora
No caminho que entendi
Que ele não olhava e sim cuspia
No caixote de lixo
E ele que me mirava de longe
Na certa pensava
Isso é para aprender a não ser curioso
E a ser mais observador.

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