terça-feira, 3 de março de 2020

"Linhas Internas", RJ/SD, Precipitação; Publicado: BH, 030202020.

Precipitado
Precipitei-me
No precipício
Sem fundo da vida
Caí de cabeça para baixo
Fiquei a imaginar 
De pescoço quebrado
E fazia 
Mas não sabia 
O que fazia
Estava desesperado
E te queria
E corria atrás de ti
E me via a fugir de ti
Precipitado
Precipitei-me
No precipício do amor
Mas também não tinha fundo
E fui cair e caí
E olhei para cima
E te vi a me olhar do alto
E não me ajudaste
E me pisaste
Todo mundo me pisava
E não imaginava
Que seria tão mal assim
Mas a ânsia de ti
Era muito maior
E para não sofrer
Resolvi fugir
Para aonde não sei
Por isso me lancei
No precipício do abismo
Da vida 
E de repente
Vi-me sozinho
A procurar por ti
E não a encontrei
Desperdicei o meu amor
Rasguei minha vida
Como se fosse papel
Não consigo mais 
Recuperar-me
Pois tudo era difícil
Sem ti para me ajudar
Quando consegui
Chegou ao fim do fundo
Estava escuro
E ao voltar os olhos
Para mim mesmo
Já estava cego
Fui apalpar
Mas não tinha mãos
Imaginei gritar teu nome
Mas não consegui
Pois estava mudo
Que desgraça vivi
Por causa de ti
E me acabei
Precipitei-me atrás de ti
Tiraste o corpo fora
E despenquei
E não me amparaste
E ainda riste de mim
Fiquei todo esmagado
No chão da calçada
No vão da escada
Aonde passaste e cuspiste
O desprezo para mim
E fingiste não me ver
A rastejar para levantar
Mas meu corpo doía
Minha cabeça rodava
Num último esforço
De esperança imaginar
A voltar para mim
E tudo apagou
Tua imagem voou
E não voltaste.

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