segunda-feira, 2 de março de 2020

"Originais", RJ/1980, E é só isso aí mesmo sim senhor meu; Publicado: BH, 020302020.

E é só isso aí mesmo sim senhor meu
E não tenho muita coisa para dizer não
E quero somente mentir a agradecer a atenção
E fechar os olhos para toda essa desolação
E creio que nada vai mudar aqui e agora mesmo com certeza
E precisamos começar algo de novo em nossa vida velha
E erguer um pedestal para a nossa ferida crônica
E se não queres viver então penso melhor que não vivas
E se não queres amar então penso melhor que não ames
E deixa apenas quem quer viver viver e viver e viver e vim ver
E deixa apenas quem quer amar amar e amar e amar e ar e mar
E já estás cansado de saber muito bem que nada posso dar
E nunca lucrei nada com as experiências da minha vida
E me tiraram todas as oportunidades que me foram oferecidas
Sim senhor meu camarada e companheiro de verdade e cúmplice
E a falsidade impera na mente e no coração dos seres durante eras
E a falta de amor e de respeito e de paz e de calma e tranquilidade
E nos leva a nos devorar uns aos outros tais canibais famintos
E o ódio e a violência são o pão nosso de cada dia dai-nos hoje
E não existe um olho sequer claro e são na face da face da face da face da alface
E mata tudo e engole gulosamente a morte da serpente apodrecida
E fareja o rastro da mosca na estrada da Via-Láctea atômica adormecida
E a lua nuclear um dia vai explodir e acabar com tudo todo nada
E aí alguém vai ter alguma coisa nova para dizer de repente desesperadamente mudo
E aí não vamos mais precisar de começar algo de novo em nossas vidas velhas
E o tudo e o todo e o nada e o novo por si sós começarão e existirão na inexistência
E a carne deixará de ser carne e não será mais flácida e plácida
E não mais se cansará e se apodrecerá como de costume
E a vida se fará vida e será vida e viverá vida e verá que é uma boa vida boa
E uma vida vivida e bem e que se viu vida na explosão da vivência
E podes dizer que sou um profeta louco e faminto e doido e labirinto e antropófago
E doutor e meu doutor e meu senhor e meu amo e meu rei carrasco e meu amor
E me arranca este dente e acaba com o meu sofrimento e com a minha dor
E ouça o meu lamento seu surdo duma figa e sem um pingo de calor
E para essa disgrama e essa disgreta e essa desgraça e essa miséria e esse lixo
E olha para o vácuo e vaga devagar a divagar na vaga aberta no peito em chagas de sangue coagulado
E donde foi arrancado o coração velho e enferrujado e sujo de terra e pus
E para que mais serviria tão vil e febril e ardil coração de toco de pau morto?
E já não batia mais nem para marcar o compasso do passo do pássaro do passado
E já não servia mais nem para sentir o frescor duma sombra duma árvore frondosa e verde
E preferia a sombra dum poste de ferro e de concreto armado e de cimento e de aço
E queria que surgisse velhas florestas com edifícios e prédios novos e luxuosos
E por mais caro e bem trabalhado e bem acabado e bem tratado e bonito que seja um espigão
E por mais rico e moderno e vistoso e limpo e perfumado e tudo o mais
Que seja um prédio ou um edifício ou uma casa ou um conjunto de apartamentos de muitos andares
E de muitos quartos e portas e portões e janelas e tapetes e decorações e belezas
E nunca terão a natureza e a singeleza e a influência duma árvore
E nunca terão o valor e a raridade e a joia duma árvore comum
E nunca terão uma árvore e nunca serão uma árvore e eles nunca e eles nunca e eles nunca (sic)
E não se pode e nem se deve comparar um edifício novo com uma velha árvore natural
E é até covardia fazer uma coisa dessa com um pobre edifício fácil de fazer
E um edifício não passa dum edifício e um prédio duma natureza morta
E uma árvore será sempre uma árvore e será sempre sempre e sempre sempre será uma árvore
E o cosmonauta pode conhecer o cosmos e o universo inteiros
E já poluiu a lua e agora procura outra vítima e outra cobaia
E deixa lá em cima o que nasceu lá em cima e não mexas não
E deixa aqui embaixo o que nasceu aqui embaixo e também não mexas não
E cada cada no seu devido lugar de cada e cada cada no seu canto sem incomodar nenhum cada
E não mexas comigo também não meu irmão e meu camarada e meu pão de sal
E vou poder dizer muito bem para todo mundo que viu claramente a mentira da verdade
E os milhões de pulgas que me devoraram vivo e cru e fresco e nu
E podes falar também que presenciaste sem pestanejar e piscar e ciliar a repetição chata das palavras chatas
E que viste os milhões de baratas e baratões e baratinhas e ratos e ratazanas e gabirus e camondongos
E moscas e mosquitos e besouros e traças e percevejos e pulgões e chatos e carrapatos e muquiranas
E muriçocas e pernilongos a se apoderarem de mim cadáver tirado a vivo que não passava de morto
E a me devorarem o corpo e a alma e o ser e o espírito e o pensamento
E não sobrou nada de mim mesmo não senhor
E não sobrou nem o absurdo e nem o absorto e nem o abstrato
E devoraram até o meu retrato e a minha sombra refletida na parede esburacada e do muro da quadra
E a minha silhueta e a minha imagem perdidas no fundo do espelho fosco e sem foco e sem luz
E mais uma vez vou dizer que é só isso aí mesmo meu chapa o que vou dizer e mais nada
E estou cheio de saber que achas pouco
E podes me encher a cara de porradas e de socos e de murros
E faças da minha face uma pasta de face feita da face da pasta dos teus punhos cerrados e de chumbo
E já demonstrei por muito mais de mil vezes
Que não apresento condições técnicas e físicas e psicológicas de mostrar e demonstrar e apresentar algo
E me perco e me desespero e me entrego e me desmorono
E minhas pernas ficam bambas e minha barriga começa a doer
E a bexiga se enche logo de líquido e dar vontade de urinar
E definitivamente sou um cubo de gelo em pleno alto mar
E logo e de imediato sou envolvido e desapareço na imensidão d'água deste mar aqui
E sou um peixe que não sabe nada e nem nadar
E todas as vezes que entro neste imenso mar  morro afogado desesperadamente sem parar
E não consigo de maneira alguma me salvar
E vejo da janela as vidas que passam lá embaixo
E vejo as vidas que da janela não passam
E tiro um voo suicida até a calçada da morte dura
E minha língua salta da boca cortada entre dentes a gritar que é preciso ser gente e ser infinito
E que é preciso ser eternamente eterno e universal
E vejo as folhas as flores que caem das árvores
E os insetos que voam e as formigas que andam na terra
E vejo a poeira a levantar e o mel a pingar dos favos
E vejo o pássaro no seu voo angelical
E vejo o maribondo e o besouro e a abelha e a borboleta
E sim sonho senhor e não é mentira não e sim sonho senhor
E vejo a borboleta a borboletar e a voar frágil despreocupadamente
E a plainar e a ser levada pelo vento da tarde parda
E o calor me parece insuportável e ofegante
E a borboleta voa leve e transparente entre as moléculas
E transpõe a tarde como se fosse de papel de seda
E pousa na pétala da flor para descansar e refletir e meditar
E magnificamente infinita na eternidade a borboleta azul
E olho e sinto e vejo e beijo e acaricio o céu azul
E o céu é mais azul do que o azul do azul do azul
E vejo os telhados das casas que brilham sob a luz do sol
E um sol cheio de vitaminas e vida e preguiça e calor
E pondera e pudera e pendura na vida dura de quem dera
E a morte mole traz moleza e lisura e sorte
E ouço um piano a tocar ao longe e um avião acaba de passar
E não tenho pressa e não tenho medo e não tenho mais nada para guardar segredo
E não sou covarde e nunca fui e nem quero ser
E quero é ser feliz muito antes de morrer sem ser feliz
Descansar vivo mesmo sem precisar de morrer para descansar
E não me interessa mais levar a vida que a gente leva aqui
E ficar louco e maluco e doido e tudo e todo e não ficar feliz e nada
E é preciso que a felicidade habite no coração de cada um de todos os seres humanos
E cada um tem que aprender a procurar a própria felicidade e evolução
E a felicidade é fundamental na vida duma pessoa e a progressão também
E alguém precisa nos mostrar o caminho da felicidade e da paz e do amor
E quero ser feliz e preciso ser feliz e tenho que sr feliz
E não aprendi nunca a saída que leva aos campos da minha felicidade total
E se for para morrer antes de ser feliz e ter felicidade depois de morto
Recuso-me antes de mais nada a morrer e não revogo e nem volto atrás e só morrerei
Quando tiver a felicidade completa e quando for feliz de verdade e tiver aprendido tudo que preciso
E pois é meu cara as palavras são as mesmas e não existe jeito e nem gesto e nem trejeito
E não mudou o que se quis mudar e nem transformou o que se quis transformar
E não houve conexão e não houve mudança e nem houve metamorfose totais
E continuou tudo a mesma coisa velha e sem novidades
E não veio o amor e não veio o ser feliz e nem veio a felicidade almejada
E até agora portanto a morte também não veio
E sigo a mentir e a saber que sou apenas mais um idiota
E desde que nasci sou apenas mais um imbecil e ignorante
E me despeço de ti meu senhor e amigo e meu ouvido e vomito
E este locutor mentiroso vai partir para outra etapa derradeira
E a esperar um dia poder encontrar contigo na infinita e infinda pureza do ar natural
E um dia também ainda vou voltar e poder falar mais contigo sobre tudo
E vou conversar mais com o senhor e contar mais mentiras ainda
E todo mundo tem uma história e uma mentira histórica para contar
E o senhor meu vai poder contar também a tua heroica mentira histórica
E aqui não é preciso falar a verdade e basta mentir para refletir
E resistir à pressão de não querer existir e iludir a vida a morrer
E a fome não cala a boca do homem sem estômago e sem a boca do estômago
E sem intestinos e organismos e órgãos internos e externos
E o homem de fome arrancou os próprios testículos e os fritou e os comeu
E com farinha e farofa e vinho e cachaça e cerveja e sangue de sobremesa
E enfiou a unha no reto e arrancou pelo ânus a próstata cancerosa
E fez um churrasco bem temperado e deu de comer à mulher e aos filhos
E bom homem podre e morto e cheio de germes e vermes e micróbios e cheio de defuntos e de cemitérios
E nasceste para sofrer e agora vomitas tudo o que comeste para morrer
E não és digno desse banquete e vais morrer fuzilado no muro das lamentações
E aquele muro escuro que existe atrás da igreja da rua direita
E o pelotão de fuzilamento já foi convocado e és um homem morto
E já estás condenado e vais morrer de olhos podres vendados e furados e cegos de ódio e terror
E só importa agora morrer e morrer nunca será a solução sanada
E preparar e apontar e fogo e fogo-fátuo e cálido e pálido e falido e fogo fatal e sal
E cai de cara na cara do chão igual cai da peneira de catar arroz e feijão
E levanta na condição humana de tentar resistir até à última célula
E vil vilão da vila magnética e aturdida que abandona a amada e querida
E parte em busca desesperadamente além terras e além-mares e além céus e além infernos
E a sonhar sonhos e pesadelos e imaginações e pensamentos e imprecações
E minhas palavras não valem uma palavra e o meu sim não vale um não
E meu tudo não vale um nada e meu todo não vale uma parte e o meu ser não vale um ser
E meu eu não vale um eu e o meu corpo não vale quanto pesa
E está mais do que na cara que não tem remédio para o meu tédio
E já tentei a cura pela água e pela acupuntura também
E já tentei por todos os tipos de cura e por todos os tipos de remédios
E vou morrer do jeito que nasci e do jeito que sou e podes deixar que não vou querer
E nem vou mais precisar de mais nenhuma palavra da boca de quem quer que seja
E se tivesse nascido poeta ou pensador ou filósofo ou escritor
E uma dessas coisas teria que ser vivo ou morto ou morto ou vivo
E se tivesse tomado uma decisão ao nascer e tivesse entrado em ação e reagido
E nem meu pai e nem minha mãe e nem eu sabemos o que foi que nasci
E não sabemos nem se não nasci mesmo ou se sou um fato ou um feto
E uma sombra ou um sonho ou um boato e o certo é que não sabemos de jeito não
E perco e perdi muito tempo na vida e na morte e no dia e na noite
E hoje tento recuperar tardiamente tudo que perdi e sei muito bem
E que por mais corredor e veloz que seja e consiga ser
E não conseguirei me alcançar e alcançar o tempo e recuperar o que já perdi
E deixei apodrecer na rua e na calçada e na lata de lixo
E que espera indiferente pelo lixeiro em frente ao portão da casa
E as mulheres passam e nem me olham e nem me querem mais
E o desejo delas por mim já morreu faz bastante tempo
E elas mesmo nunca tiveram e nem nunca sentiram nada por mim
E é que sou um pobre coitado e fico a pensar mil coisas bobas
E mil coisas idiotas e sem fundamentos a respeito das mulheres e encho o saco delas
E quando elas não me aguentam mais enfiam o pé na minha bunda e me mandam plantar batatas
E sinto e sofro demasiadamente em mim e no meu ser todo
E a falta de inteligência e de raciocínio e de pensamento e de coordenação de ideias
E espírito e de consciência e de tino e de senso e de mentalidade viva e duma mente forte
E concreta e de meditação e de memória e de todo o meu encéfalo
E de tudo que corresponde direta ou indiretamente e também de tudo que esteja ligado ao mecanismo
Interno e externo da minha cabeça e cérebro e cerebelo e bulbo e o resto do restante da sobra
E tenho que sair desta fase aguda de inércia e de inaptidão
E sair deste novelo e deste emaranhado embaraçado problema
E perder esta preguiça de fazer as coisas e de viver e de existir
E preciso e tenho que aprender e aprender e aprender e aprender
E o diabo é que morro e não aprendo nunca e não tem meio e nem inteiro
E que me façam a aprender mesmo com a minha mãe a me ensinar
E digo e falo e teimo e grito e repito não tem jeito mesmo não tem não
E não vale a pena tentar de novo e não aprendo mesmo não
E a pedra é mais capaz e mais inteligente do que eu uma pedra
E a pedra filosofal e fundamental e de terra e de cal e a pedra é uma pedra
E a pedra sabe que é uma pedra e que é formada
E a pedra sabe muito bem de que é formada e feita
E eu que não sei de que sou formado e de que que sou feito e de que que eu?
E se tivesse seguido o meu próprio destino e o meu próprio nariz
E hoje seria igual a essa pedra e serviria para alguma coisa
E saberia de tudo e seria de tudo e aprenderia de tudo e de todo
E nada para saber de mais nada do que uma pedra
E viveria e amaria e teria paz e união e seria o bom e ficaria bem
E se pudesse dormir e não sonhar e nunca mais acordar e sair desta letargia
E desta coceira de lá de dentro da minha cabeça oca
E vazia e vaga e obscura e opaca e escura e fechada e nebulosa
E tenebrosa e horrorosa e que mete medo em todos os pensamentos que querem passar por aqui
E são afugentados com o inferno mental e capetas e demônios e diabos e feiticeiros e bruxas e espíritos
Malignos que apoderaram-se da cavidade que existe na minha cabeça fundida
E preencheram-na com todo o tipo de imundície e sujeira e lixo e podridão
E não tenho mais nada para dizer e para chorar e lamentar
E não quero mais que me mostrem qual é o meu caminho
E seja reto ou tortuoso o seguirei sozinho
E não quero mais que tracem o meu destino e a minha sina e a minha saga
E não quero mais saber quem é que sabe de mim e do meu eu
E eu sou eu e sou eu quem vai traçar o meu destino e a minha sina
E eu sou eu e sou eu quem vai saber de mim e do meu eu
E que não se envolvam mais na minha vida e no meu gosto
E quem sabe o meu sexo sou eu e quem sabe o que eu sou sou eu
E não preciso mais mesmo de palavra alguma de qualquer que seja o mortal morto
E nem que eu venha a morrer na sarjeta e a comer os restos da latrina como um filho pródigo
E nem que venha a ser enterrado em um esgoto cheio de detrito e lama
E o que mais que penso a partir de agora só vai interessar a mim
E tudo que falar a partir de agora só eu quem vai ouvir
E não quero ninguém a me seguir ou a me escutar ou a me ouvir
E não sou nenhum papa ou padre ou pastor ou bispo ou profeta ou louco
E sou só um demente sem dentes e sem sementes e sem ser gente e sem mente
E que não sente e não vibra e não liga e não aquece e esquece
E a única coisa que consigo fazer é me afobar desesperadamente
E me afobar quando penso que o povo continua a morrer de fome
E o índio brasileiro está entregue às mãos de militares ineficientes
E me afobo quando penso que a situação vai continuar a mesma
E que não adianta tentar fazer alguma coisa para tentar mudar
E me afobo com todos os problemas que nós temos que enfrentar
E o destino dos índios brasileiros tem que sair das mãos desses militares corruptos
E o povo tem que parar de morrer de fome e de miséria e de pobreza
E chega de tanta desgraça e abandono e desespero e morte à míngua
E é preciso derrubar esses homens que brincam com o poder e traçam
E manipulam o destino e os interesses do povo e da nação
E esses homens que entregam as nossas riquezas e as nossas causas
E para estrangeiros sedentos de dinheiros e divisas e ambiciosos e orgulhosos e egoístas
E esses homens que só visam os interesses próprios e dos parentes e dos amigos
E das multinacionais e dos ricaços e dos poderosos e que se esquecem das classes
Menos privilegiadas e que se esquecem dos oprimidos
E esses homens precisam ser destituídos dos seus cargos e poderes
E esses homens precisam ser encaminhados a um pelotão de fuzilamento
E são os verdadeiros traidores da pátria e são os verdadeiros falsos e mentirosos
E que não querem nem saber do que que é preciso fazer
E me afobo com um homem desses e se conseguir fechar a minha mão em volta do pescoço dum deles
E a minha mão só sairá com a garganta entre os dedos e entre as minha unhas firmes e iguais garras de leões
E me afobo com esse povo humilde e submisso e que prefere ser escravo
E a lutar por seus direitos e por suas vidas e liberdades e destinos
E me consumo por esse povo ignorante e cego e surdo e mudo e morto
E que seja bem-vinda bendita a revolução que vai tirar este povo deste mar de lama
E que vai dar uma vida digna para esta gente e chega de viver esta vida de porco e de morar em chiqueiros
E favelas e botar esses bandos de políticos e de ministros e de militares para trabalharem
E chega de levarem a vida nas mordomias e nos aproveitamentos
E chega de causarem a inflação e a perdição do povo trabalhador brasileiro
E já não basta a cassação dos nossos direitos e das nossas liberdades?
E agora querem nos destruir e nos matar de fome e de miséria
E fora com esses políticos entreguistas e oportunistas e fora com esses ditadores
E fora com os generais e com os militares e fora com os puxa-sacos
E é preciso que façamos uma reformulação básica em toda a nossa estrutura
E é preciso que acabemos também com as mamatas desses figurões e dos seus parentes
E parentes e amigos e filhos e puxa-sacos em geral
E é preciso que aconteça uma revolução urgente neste país das mil maravilhas
E é preciso que o próprio povo trabalhador brasileiro guie o seu destino
E antes de mais nada é preciso remodelar este nosso quadro atual e real
E precisamos nos unir e lutar e a união traz a força e a luta traz vitória
E nunca me cansarei de lutar e de gritar e protestar e de reclamar
E nunca me cansarei de falar e de denunciar e de manifesta e de mostrar
E nunca serei cúmplice daqueles que não querem a verdadeira democracia
E nunca estarei do lado dos fortes e dos poderosos e dos ricos e dos maiorais
E nunca apoiarei aqueles que nos negam os nossos verdadeiros direitos de liberdade
E sobrevivência e de ser o que bem entender e de pensar o que vier em nossas cabeças 
E de falar o que sair de nossas bocas e das nossas mentes necessitadas e presas
E nunca me cansarei e nunca desistirei e nunca me desanimarei e nunca me entregarei e nunca me  acovardarei e não posso negar que nunca fui covarde e medroso que estaria a mentir
E já fui covarde e já fui medroso e já corri do pau mas não interessa
E isso não interessa mais e o que interessa é que agora estou mais disposto do que nunca a lutar
E a viver e até a morrer e não sou político e nem sou anarquista e nem sou candidato a coisa alguma
E o que não gosto é de injustiça social e de sofrimento e de padecimento do povo e luto e berro e grito
E por que a lutar e a berrar e a gritar estarei a lutar e a berrar e a gritar por mim mesmo e pelo povo 
Trabalhador brasileiro e pelos índios também e ainda pelas prostitutas e pelos homossexuais e por todo
Tipo de gente e pelos negros e pelos brancos e por todas as classes e camadas mais injustiçadas desta 
Cruel sociedade fascista e racista e discriminatória e não sou de chorar e nem de prantear e nem de soluçar
E todo mundo sabe que choro e pranto e soluço não resolvem nada e sei que já tem gente aí a me achar piegas e demagogo em demasia mas não sou nada disso não e sei que sou um burro velho mas antes de ser Um burro velho sou um lutador e luto mesmo e não estou nem aí e a gora não fujo da luta e nem corro do Pau mais não e se a correia tiver de esquentar as minhas costas elas estarão prontas e apanho e me quebro
E me mato e me morro e não corro e fico e permaneço inalterado e subsequente no lugar de sempre e em Plena luz do sol a fazer os meus atos e a dar conta deles e a me responsabilizar por eles e a defendê-los Com unhas e dentes e não tenho mais medo por que o medo é ruína e perdição e o medo é o descontrole e A desorganização e a falta de confiança e o medo é a morte e é a humilhação e é a submissão e a covardia E aprendi a refletir e a não ter mais medo de nada e não tem cabimento uma pessoa ter medo das coisas 
E ter medo da vida e do mundo e da morte e do destino e tudo que nos cerca e nos acontece são coisas
Naturais e não podemos nos deixar envolver e nos prejudicar pelo nosso medo 
E quem tem medo não arrisca e quem não arrisca não petisca e não ganha e quem não ganha não vence
E quem não vence não vive e quem não vive não arrisca e vale a pena arriscar porque pela vida vale tudo
E já que a possibilidade de vida é mínima temos que arriscar o máximo e o que pode fazer um covarde 
E fraco num mundo como este? nada e os covardes são os primeiros a caírem e a serem discriminados 
E pisados e são os primeiros a perderem a vida e a felicidade e a paz e antes ser um porco ou um 
Cachorro ou um animal irracional qualquer e do que ser um medroso e covarde e fraco igual a uma palha
E antes morrer ou nascer morto do que viver com medo e o medo não existe e nem pode existir
E é preciso banir essa palavra do vocabulário e dos dicionários e livros e línguas 
E daqui para a frente não mais tocaremos nessa palavra e nem a conheceremos mais e vamos degenerá-la
E enterrá-la e faço de tudo por tudo e para tudo e do todo por todo e para o todo e faço do todo por tudo
E a melhor coisa que temos a fazer é enfrentar e lutar e igual a borboleta enfrenta e luta com suas frágeis 
Asas contra as pesadas correntes de ar e o vento que a leva a todo lugar 
E é preciso que o homem seja pelo menos igual a borboleta e é preciso que o homem aprenda a ter a 
Mesma ambição que tem uma pequenina borboleta que nem sabe que vai morrer e às vezes vive 
Somente por uma hora e faz o que o homem não levaria a vida toda para fazer e sim a eternidade 
E sou tão pequenininho e tão mesquinho que não consigo ser igual a borboleta ou uma formiguinha ou uma 
Joaninha e quero ser pelo menos então igual a uma florzinha bem cheirosa e não quero ser uma coisa vil
E feia e azeda e fedorenta e podre e horrorosa e se não for possível ser igual a florzinha cheirosa e queria Ser pelo menos uma folhinha verde duma árvore qualquer e nem que seja um espinheiro ou um sabugueiro
E tamarindeiro ou um cacto e a caatinga e o sertão e ao boiadeiro é o meu irmão vestido de couro de já
Berrou e corre montado no lombo dos burros e dos cavalos e das éguas a se perdem nos espinheiros
E saem cheios de carrapichos e carrapatos e rodoleiros os cavalos e não os meus irmãos vaqueiros 
E verdadeiros heróis dos sertões e enquanto nossos irmãos morrem lá nos fundos do sertões mortais
E nós morremos aqui nesta vida sedentária que levamos inutilmente e corremos atrás de dinheiro
E de bebidas e de mulheres interesseiras e são festas e jantares e banquetes e recepções e coquetéis
E almoços utópicos e mordomias atrás de mordomias e esbanjações atrás de esbanjações 
E lá no sertão o sertanejo campeia para tentar comer arroz com feijão e às vezes nem isso come 
E fica só na farinha com carne seca e é preciso que nós nos conscientizemos de que é necessário 
Estabilizar este desequilíbrio socioeconômico e educacional e cultural e uns comem e vivem e outros
Nem comem e nem vivem e continuamos todos a falar e a pensar mal uns dos outros sempre
E o Brasil não vai para a frente e nem progride e nem fica em ordem e chega de tanto samba e de 
Tanto carnaval e de tanto futebol e é só isso aí mesmo sim senhor meu e se o senhor quiser 
Acrescentar mais alguma coisa o senhor pode acrescentar e sei que tenho a mente vazia e perco a 
Noção das coisas e sei que o senhor acha que não tem nada a ver o que falei e escrevi aqui e pensei
e projetei e tentei ser até agora e acho que seria bem melhor se o senhor fosse embora e o senhor 
Fica aí e vou falar e falar e falar e quase sempre não vou pensar muito quando vou falar e falar 
E mesmo que lesse e conhecesse todos os filósofos e teóricos e teólogos que revolucionara a 
Filosofia e a religião e a teologia e as teorias e as dialéticas e os diálogos e tudo o mais e continuaria
A acreditar em Deus e a elevar a Ele as minhas orações e nem que conhecesse toda a dialética e 
Todas as ideias e pensamentos dos grandes célebres homens da humanidade e da vida e do mundo
E não poria Deus em segundo plano e ou esqueceria de Deus e negaria a sua existência e penso que
Deus é um fator fundamental na vida de cada ser e quem negar a existência de Deus e não acreditar
N'Ele pode desistir desde de já da vida e da morte e do sul e do norte e nem que soubesse e entendesse
Todas as ciências e se fosse um gênio ou o melhor e maior e mais famoso cientista que existe e já existiu
E não desistiria nunca da ideia de que Deus existe e é o maior ser entre os seres que existem no universo
E no inverso e no verso e no anverso e se um dia vier pensar na ideia que Deus não existe e que morra 
Imediatamente e muito antes de pensar e o que quero mais é amar a Deus e que Ele me dê toda a paz
E tranquilidade e serenidade que existem no Santo Olhar e quero que Ele estenda a sua mão protetora
Sobre a minha cabeça e me abençoe e me ilumine e me ampare debaixo do seu paternal cuidado e 
Guarda-me e guie os meus passos também e quero que Ele lance sobre mima sua face e ilumine meu
Rosto com a luz do seu olhar e faça com que viva cada dia mais e cada vez melhor e mais feliz do que 
Estou a viver agora e quero que Ele perdoe todos os meus pecados e livra-me de todo mal e lanço os
Meus olhos para o alto e vejo aonde vai o meu olhar e ergo os meus olhos para o céu e olho para 
Aonde vai dar o meu olhar e ele se esbarra na barreira desse azul imenso e infinito e me sinto lá dentro
Das nuvens a boiar e a flutuar e livre de tudo e jamais cheguei a ver de perto azul tão intenso e tão 
Natural e do alto da montanha vejo seu olhar azul e profundo que me fura o peito igual a um punhal
Em busca do meu coração e tem que manter o coração controlado e equilibrado e puro e não se 
Pode deixar um coração pendente e doente assim e bate coração e bate com amor e pureza e 
Perfeição e bate com muita paz e clareza e muita iluminação e afinal de contas para ser puro e 
Purificar e ser perfeito tens que bater para depurar e se não batesses não existiria vida e o sangue
Continuaria venoso e imperfeito e deixaria de ser sangue arterial e puro e seria um sangue impuro 
E um sangue venenoso e imprestável para os morcegos e vampiros e bate coração e coração bate
E bate sem parar e bate até purificar coração danado de bom e legal e bate sem cobrar um centavo
Mas quando ele cansar e e resolver parar para descansar e podes guardar a viola no saco e esticar
As botas e podes fechar o paletó e pagar a promissória vencida e chegou a hora do resgate e não
Tens saída e podes comer capim pela raiz e partir desta para uma melhor e podes esticar as canelas
E bater as botas e o coração parou e parou tudo que gerou e quando ele parar é porque já chega
E não tem mais jeito e não adianta mais nada mesmo e agora é só viver com os anjos e os santinhos
E das coisas que não tenho e que mais pedia a Deus foi inteligência absoluta e eficiente e rápida no 
Objetivo e todo mundo já está cansado de saber que não tenho nada e não tenho nada nem dentro
E nem fora da cabeça e sempre pedi a Deus pelas coisas que não tenho e sempre vivi a pedir a Ele
Que me desse inteligência e se tivesse uma inteligência 100% ninguém me segurava e não haveria 
Barreiras e nem problemas no meu caminho e venceria todas as batalhas e chegaria mais cedo ao
Longe e aprenderia tudo que nunca aprendi e tudo que nunca vou ter capacidade para aprender 
E para efetuar e coloco a inteligência acima de qualquer qualidade e a inteligência vence a força
E a ignorância e a fraqueza e a inteligência derruba a brutalidade e o ódio e a raiva e o rancor e a 
Inteligência é a arma e a chave e a ferramenta e a alavanca e o caminho e não existe e nem vai 
Existir nunca algo capaz de vencer a inteligência e se for para viver sem inteligência e sem ser
Inteligente e vivo e prefiro morrer rapidamente aqui e agora neste momento e abras a porta do teu
Conhecer e do teu intelecto verdadeiro e revoluciona a massa cinzenta e ponhas a máquina para 
Funcionar e era isso que queria que Deus me desse e Ele não me deu inteligência santa e divina e 
Espiritual e celestial e divinal e sepulcral inteligência e a inteligência dos mortos e dos vivos e dos 
Podres e dos feridos e dos gatos e dos felinos selvagens e dos equinos e dos caprinos e dos ladinos
E assim pararia para pensar e ficaria a olhar perdidamente para o perdido e perceber a tarde cair 
Com toda a lentidão e preguiça e a ouvir os raros barulhos e um martelo a bater ao longe numa construção. 

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